Título: Inflação será maior no 2º semestre
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Brasil, p. A3

Carol Carquejeiro/ Valor Fabio Silveira, economista do RC Consultores: expectativa de alta de grãos O segundo semestre deste ano será marcado por um aumento da inflação ao consumidor. No entanto, esse movimento será impulsionado por fatores sazonais, como a elevação dos preços de alimentos e dos combustíveis. Economistas ouvidos pelo Valor apostam que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) subirá, nos próximos seis meses, em torno de 2,5%, bem acima do 1,54% verificado no primeiro semestre. Ainda assim, as projeções para o fechamento do ano recuaram e também já estão abaixo de 4%.

Após cederem muito no começo de 2006, os alimentos e o álcool não serão mais pontos de alívio para a inflação. A perspectiva é que, após as seguidas deflações, os alimentos in natura voltem a um patamar mais alto. E, ainda que não pressionem tanto, vão trazer uma contribuição para os índices de inflação. Há também a a expectativa de alta em alguns grãos, como soja, feijão, milho e arroz, ressalta Fábio Silveira, economista da RC Consultores. Isso deve ocorrer devido a uma provável queda na área plantada dessas culturas, explica Silveira.

O álcool sofrerá reajuste de 22%, segundo cálculos dos economistas do Bradesco. A partir do segundo semestre começa a entressafra da cana-de-açúcar. Com isso, o aumento total do produto no ano chegará a 26%, o que representará impacto de 0,16 ponto percentual no IPCA total. Os preços dos alimentos, por sua vez, também vão sofrer aceleração. A expectativa do Bradesco é de alta de 3,5% nos próximos seis meses. Com isso, fecham o ano em 2,2%, com impacto de 0,47 ponto no IPCA.

Os economistas apostam em reajuste no preço da gasolina, logo após as eleições. Há quem trabalhe com projeções mais conservadoras, caso do Bradesco, que espera alta de 4,5%. Silveira, porém, estima um aumento de 10%, o que, segundo ele, significaria mais 0,25 ponto percentual no IPCA.

O câmbio continuará atuando como âncora para a inflação. Mas os economistas discordam sobre a magnitude dessa ajuda. Para o Bradesco, o repasse da apreciação do real em relação do dólar para os preços tem se intensificado e será capaz de compensar as elevações dos preços de alimentos e combustíveis. Isso será feito tanto de forma direta, com queda nos preços finais de bens duráveis, por exemplo, como também de maneira indireta, pela menor variação de indexadores, como os IGPs, muito influenciados pela flutuação do câmbio.

O cenário com o qual a RC Consultores trabalha é um pouco diferente. Para Silveira, a continuidade na queda dos juros básicos da economia e a redução do saldos comerciais em função da queda do preço de algumas commodities exportadas pelo país deverão trazer o câmbio para um patamar de R$ 2,35, acima dos R$ 2,20 atuais. "Com isso, haverá sim alguma pressão sobre os preços ao consumidor, mas nada que preocupe", pondera.

Mesmo com cenários diferentes, o Bradesco, a RC e também o economista Carlos Thadeu Gomes Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) projetam um IPCA em 2006 entre 3,7% e 4%. Para Gomes Filho, possíveis pressões em alimentos, combustíveis e serviços ao consumidor serão amenizadas pelo recuo ou alta contida dos preços atrelados ao dólar.