Título: BC deve reduzir previsão para o IPCA
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Brasil, p. A3

A projeção oficial de inflação do Banco Central para 2006, que já estava abaixo da meta do ano, deverá cair ainda mais. Não estava nas contas da autoridade monetária a deflação de 0,21% no IPCA de junho - sua hipótese era que o índice ficasse em 0,25% no mês.

O relatório de inflação de junho projetou uma inflação de 3,8% neste ano, menor do que a meta, de 4,5%. Analistas econômicos dão como certa uma revisão para baixo nessa projeção, ainda que não haja consenso sobre o tamanho do movimento.

Em tese, poderia haver uma redução de até 0,46 ponto percentual, que corresponde à diferença entre a inflação projetada pelo BC (0,25%) para junho e a efetivamente observada no mês (- 0,21). Mas alguns analistas econômicos ponderam que a inflação de junho foi mais baixa do que a esperada justamente porque houve choques de oferta positivos em junho, que podem se reverter, pelo menos parcialmente, nos meses seguintes.

É o caso da queda do preço do álcool, favorecida pelo início da safra de cana-de-açúcar e pela redução da demanda do produto, após o governo diminuir o teor do produto que é misturado na gasolina. Outro exemplo são os alimentos, sobretudo os "in natura", cujos preços costumam oscilar bastante.

O economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles, afirma que o BC projetou para junho uma inflação muito diferente da ocorrida não porque errou nos seus cálculos, mas devido à metodologia no relatório de inflação.

"O padrão é o BC usar nas projeções do relatório os parâmetros vigentes na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)", afirma Teles. "Mas, como o Copom passou a se reunir 8 vezes neste ano no lugar de 12 vezes, a reunião mais recente ficou meio distante."

Dessa forma, as projeções do relatório de inflação de junho, elaboradas nos últimos dias do mês, usaram dados referentes aos dias 30 e 31 de maio, datas em que havia ocorrido a mais recente reunião do Copom. "Em junho, foi divulgada deflação no IPCA-15, mas o Copom não incorporou esse dado à projeções, ao contrário do que fez o mercado financeiro em geral."

Apenas agora, quando o Copom voltará a rodar suas projeções para subsidiar a decisão de sua reunião da semana que vem, a surpresa inflacionária de junho deverá ser incorporada. Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú, considera provável que a projeção oficial do BC caia 0,46 ponto percentual, para um percentual próximo de 3,3%. Caso esse índice se confirme, significará uma inflação mais do que um ponto percentual abaixo da meta, fixada em 4,5%. Também representará uma desinflação de 2,4 pontos percentuais em relação ao IPCA de 2005.

"Para esse ano, a inflação já é um jogo ganho", afirmou, lembrando que, devido as defasagens da política monetária, as atenções do BC estão voltadas para o ano que vem. Sob esse ponto de vista, o índice mais baixo de 2006 só tem relevância no que diz respeito aos seus impactos mais permanentes, que poderão se traduzir em inflação menor em 2007.

Teles, da Concórdia, admite a possibilidade de parte da inflação mais baixa de junho ser revertida neste ano, mas diz que a projeção do BC tenderá a cair em relação aos 3,8% projetados. Ele lembra que, a partir desse mês, o IBGE trabalha com uma nova cesta de consumo para o IPCA. Nela, o impacto do álcool no custo de vida é menor. Assim, na eventualidade de ser revertida a recente queda no preço do álcool, a pressão na inflação de 2006 não será tão grande. Já para os alimentos o impacto seria maior uma vez que cresceu seu peso relativo no cálculo do IPCA.

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimento, lembra que, embora todas as indicações sejam de que a inflação ficará abaixo de 4,5% em 2006, existe ainda alguma incerteza sobre o comportamento da inflação no segundo semestre, sobretudo no que se refere a como a demanda agregada irá reagir aos estímulos de corte de juros, expansão fiscal e aumento de transferências. "São fatores que vão determinar como estará a inflação na virada de 2006 para 2007", afirmou.