Título: Ásia ocupa espaço da UE na pauta do Brasil
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2006, Brasil, p. A5

A Ásia superou a União Européia e se tornou o bloco econômico que mais vende produtos para o Brasil. O país importou US$ 20 bilhões do continente asiático e US$ 18,7 bilhões da UE nos últimos 12 meses acumulados até junho. Enquanto as compras de produtos da Ásia cresceram 37,7% no período, as importações vindas do bloco europeu subiram apenas 6,8%. A participação da Ásia nas importações brasileiras saltou de 21,2% para 24,7% nessa comparação. A fatia da UE caiu de 25,5% para 23,1%.

No ano passado, os europeus venderam US$ 18,14 bilhões ao Brasil e garantiram o primeiro lugar entre os fornecedores do país, mas já estavam perdendo espaço para os asiáticos. A virada aconteceu em março, quando a Ásia exportou US$ 200 milhões a mais que a UE para o Brasil na comparação do acumulado em 12 meses. A distância está se ampliando rapidamente. Em três meses, os asiáticos aumentaram a diferença para US$ 1,3 bilhão.

O país que mais exporta para o Brasil ainda é os EUA. Nos últimos 12 meses até junho, embarcou US$ 13,5 bilhões, o equivalente a 16,7% das importações brasileiras. No entanto, falta vigor para as importações americanas, que cresceram só 11,3% no período. O desempenho da China - responsável pelo salto nas compras vindas da Ásia - foi muito superior. As compras de produtos chineses aumentaram 46,4% nos 12 meses até junho, e atingiram US$ 6,6 bilhões. A China deve superar em breve a Argentina como segunda origem das importações brasileiras.

Para a economista do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cecília Hoff, o câmbio favorece os países asiáticos, que também avançaram em produtividade e qualidade. No primeiro semestre do ano, o euro se valorizou 8,1% em relação ao dólar, reduzindo a competitividade das indústrias européias. Já muitos países da Ásia estão mantendo sua moeda artificialmente desvalorizada.

O diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato, diz que é natural ocorrer um desvio de comércio em favor da Ásia por conta dos investimentos das empresas européias e americanas no continente. "São empresas dos Estados Unidos e da Europa vendendo para o Brasil através da China", diz o executivo.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) demonstram que, neste início de ano, a Ásia se transformou na maior fornecedora de bens de capital para o Brasil. De janeiro a maio, as importações de bens de capital vindas da Ásia cresceram 59,6%. A participação do continente subiu de 30,6% para 38,2%. Já as importações de bens de capital da União Européia avançaram apenas 6,9% e a fatia do bloco encolheu de 36,8% para 30,7%.

Em bens de consumo, a Ásia consolidou sua posição de liderança. Com a ajuda do real valorizado, as compras de bens de consumo europeus aumentaram 28,3% - percentual expressivo, mas pouco comparado aos 55,6% dos asiáticos. De janeiro a maio desse ano, a Ásia respondeu por 32,2% das compras brasileiras de bens de consumo, bem acima dos 25,2% da UE. No período de janeiro a maio de 2005, a diferença era de pouco menos de um ponto percentual.

A União Européia mantêm a liderança no fornecimento de matérias-primas e bens intermediários, mas a margem é cada vez mais estreita. Enquanto as compras de matérias-primas asiáticas cresceram 36,6% de janeiro a maio desse ano, as importações desses produtos vindas da UE subiram ínfimos 2%. A vantagem de nove pontos percentuais da UE nos primeiros cinco meses do ano passado encolheu para um ponto percentual.

Segundo Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as máquinas japonesas e coreanas são mais sofisticadas e competem com européias e americanas no Brasil. Já as máquinas chinesas atingem a fatia da indústria brasileira. As estatísticas da Abimaq são um pouco diferentes das do governo. Enquanto os dados do governo consideram locomotivas, tratores e caminhões como bens de capital, a Abimaq contabiliza apenas as máquinas "sem rodas". Pelos dados da entidade, a UE forneceu US$ 1,6 bilhão em bens de capital para o Brasil de janeiro a maio, os EUA embarcaram US$ 1,13 bilhão, e a Ásia, US$ 712 milhões. Só que, enquanto as importações vindas Europa cresceram 12%, as compras de máquinas chinesas saltaram 99%. "Com essas taxas, a tendência é a Ásia se igualar a Europa em breve".

A Europa mantêm a liderança em produtos de alto valor agregado. No setor químico, a UE segue como principal fornecedora do Brasil, respondendo por 31% das importações do país.