Título: Varig não tem condições de pagar todos os credores, admite VarigLog
Autor: Vilella, Janaina e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Empresas, p. B3

Os recursos que a VarigLog pretende injetar na Varig ´velha´ - que herdará o passivo - nos próximos dez anos não serão suficientes para quitar a dívida com os credores. Quem reconhece isso é o próprio Marco Antonio Audi, sócio da Volo do Brasil, que controla a VarigLog, única empresa a apresentar até agora proposta de compra pela companhia aérea. "Jamais a Varig vai conseguir liquidar 100% dos seus débitos. Isso não existe, em uma situação dessas", disse Audi.

Na avaliação do executivo, o pagamento dos cerca de R$ 5,5 bilhões devidos pela União e pelos Estados, referentes a perdas com o congelamento das tarifas e créditos de ICMS, será crucial para honrar os demais montantes com os credores. O montante também ficaria com a empresa antiga.

Hoje, os credores se reúnem em assembléia para avaliar e votar a proposta da VarigLog, assim como as alterações que esta acarreta no plano de recuperação da Varig. "Hoje, o credor olha e vê 0% de possibilidade, amanhã vai olhar e pensar que pode receber 10%, 30%, 60% de seus créditos. Pelo menos, ele tem um norte. Mas tenho certeza que (a companhia) não vai liquidar 100%", afirmou Audi ao Valor.

Audi lembrou que a Varig que pode ir a leilão nesta quarta-feira é uma companhia com faturamento equivalente a 20% do que era e um quarto da frota original. "Nas últimas semanas, a Varig virou uma mini-companhia. Acabou o caixa. Está com 16 aviões voando. Recentemente, eram 62 aviões em operação, depois passou para 48 e hoje tem 16."

Não é a primeira vez que a VarigLog oferece uma proposta de compra pela Varig. Em abril deste ano, a ex-subsidiária de logística da Varig apresentou uma oferta de US$ 400 milhões pela Varig, mas acabou retirando a proposta antes mesmo da realização do leilão, que acabou sendo considerado "deserto" pela Justiça do Rio. Desde abril, ressaltou Audi, o cenário da companhia mudou. "Naquela época, a Varig ainda tinha 30% do mercado, hoje tem 5%. A empresa que está aí fatura US$ 400 milhões por ano. Aquela, da primeira proposta, era uma empresa de US$ 2 bilhões", afirmou Audi.

Com relação à companhia, ele diz que é urgente chegar a uma conclusão para ´estancar a sangria´. "Todo dia aumenta o furo e isso não tem mais fim, o custo do leasing é enorme, as aeronaves estão paradas, mas o lessor (arrendador de aeronaves) não quer saber, ele quer receber", disse.

Segundo Audi, a Varig tem sobrevivido nas últimas semanas graças ao aporte emergencial de recursos feito pela VarigLog, desde o dia 26 de junho. A ex-subsidiária comprometeu-se a depositar até US$ 20 milhões para manter a aérea voando até a realização do leilão. Até quinta-feira, o montante depositado totalizava US$ 13 milhões.

O executivo afirmou que não pretende colocar mais dinheiro na empresa, além dos US$ 20 milhões previstos inicialmente. "Estamos colocando dinheiro basicamente a fundo perdido. Caso não aconteça nada com a Varig, vamos perder esse montante. Estamos falando da recuperação de algo que você nunca vai ter certeza se é realmente recuperável. Recuperável é, mas a que custo?", questionou Audi.

-------------------------------------------------------------------------------- Companhia que vai a leilão tem faturamento equivalente a 20% do que era e cerca de 25% da frota original --------------------------------------------------------------------------------

Na sexta-feira, executivos da Varig se reuniram com os credores para apresentar as modificações no plano de recuperação da empresa, a ser votado hoje. O documento prevê que a Varig ´velha´, que continuará em recuperação judicial, deverá ter apenas 50 funcionários e um avião, com receita anual de até R$ 20 milhões. A projeção é que a empresa antiga chegue a 2016 com um fluxo de caixa de cerca de R$ 40 milhões. A nova Varig, por sua vez, teria 16 aviões e funcionaria com até dois mil empregados. Na visão de Audi, a nova empresa começará a operar com 16 aeronaves, mas tem que voltar a ter uma frota de 50 aviões. "Fica difícil falar em quanto tempo", diz.

A Varig tem hoje 10 mil funcionários. O custo das demissões foi estimada pelo advogado do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), Otávio Neves, em US$ 80 milhões. Fontes ligadas ao processo disseram que, no encontro de sexta-feira, o fundo de pensão Aerus, que detém 70% dos créditos da classe dois de credores, se mostrou disposto a aprovar o novo plano e votar a favor da proposta da VarigLog.

A companhia aérea garantiu ao Aerus, no novo plano, como parte do pagamento, parte dos créditos que tem a receber da União pelo congelamento das tarifas. As empresas de leasing, por sua vez, se absteriam de votar, segundo interlocutores presentes ao encontro.

O risco de que a Fundação Ruben Berta (FRB) continuasse à frente da Varig ´velha´ causou tensão entre credores, principalmente as estatais. Infraero, BR Distribuidora e Banco do Brasil querem garantias de que a FRB não terá qualquer tipo de interferência na empresa que continuará em recuperação para votar a favor do plano e da proposta.

Na sexta-feira, o juiz da 8ª Vara Empresarial, Luiz Roberto Ayoub, garantiu que a fundação continuará afastada da administração da Varig enquanto for necessário. Embora tenha 87% das ações da aérea, a FRB está fora do comando da empresa desde o dia 15 de dezembro, por decisão judicial.

A proposta da VarigLog prevê a divisão da Varig em duas companhias. Uma delas, a nova Varig, ficará com a parte operacional, ou seja, os vôos, aviões e linhas no Brasil e no exterior. A Varig ´velha´ ficará com 5% das ações da nova companhia, R$ 130 milhões em ativos (principalmente imóveis), o centro de treinamento de pilotos e uma linha entre São Paulo e Porto Seguro. Também herdará o passivo de cerca de R$ 7 bilhões.

A consultoria Deloitte contestou, em relatório, a composição do preço mínimo de compra da Varig feita pela VarigLog, alegando que a ex-subsidiária considerou como preço receitas futuras. Audi considera que este ponto é uma "questão de visão". "A Deloitte enxergou de uma maneira e a gente de outra. Chegou a falar em todos os jornais que era melhor a quebra da empresa do que qualquer proposta. É uma questão de visão. Eu não tenho esse tipo de visão."

Na semana passada, os executivos da VarigLog reuniram-se com representantes da Deloitte e modificaram itebs da proposta. Depois do encontro, o sócio da consultoria Luiz Alberto Fiore disse que "a proposta apresentou uma melhora considerável". "Mostramos o que temos a oferecer (aos credores) e o que pode acontecer se a empresa fechar. Agora, a decisão é deles", diz Audi.