Título: Biodiesel impulsiona óleo de soja refinado
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Agronegócios, p. B16

A onda global de investimentos na produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas vegetais já começou a modificar significativamente o perfil das exportações brasileiras de óleo de soja.

Impulsionados pela demanda para a fabricação de biodiesel, os embarques do produto refinado somaram 263 mil toneladas no primeiro semestre deste ano, 24% mais que em igual período de 2005, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em receita, o crescimento na mesma comparação chegou a 29%, para US$ 132 milhões.

Boa notícia para as indústrias processadoras do grão instaladas no país, que desde as mudanças tributárias promovidas pela Lei Kandir, de 1996, reclamam da perda de competitividade do Brasil nesse mercado em relação a concorrentes como Argentina e Estados Unidos, cujo principal reflexo ainda é a contínua retração da exportação de óleo bruto.

Segundo a Secex, de janeiro a junho o volume de óleo bruto exportado pelo país recuou 31%, para 701 mil toneladas, e a receita proveniente dessas vendas caiu 34%, para US$ 319 milhões.

De fevereiro passado a janeiro próximo, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) projeta as exportações totais de óleo de soja do país em 2,2 milhões de toneladas, 15% menos que nos doze meses anteriores, mas fontes das empresas acreditam que os embarques do produto refinado manterão o ritmo atual.

Segundo dados divulgados na semana passada pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o Brasil deverá exportar, no total, 2,1 milhões de toneladas de óleo de soja na safra 2005/06, ante 2,41 milhões em 2004/05. O órgão prevê a interrupção da tendência de retração em 2006/07, quando os embarques voltariam a somar 2,1 milhões de toneladas. E, para analistas, graças ao refinado.

Para um executivo de uma das principais exportadoras de óleo de soja que operam no mercado brasileiro, a procura pelo produto refinado aumentou sobretudo na Europa, mas a demanda também está aquecida nos EUA, embora aquele país ainda não tenha uma legislação específica para esse tipo de combustível.

"Hoje, os americanos estão mais interessados na adoção do etanol como alternativa à gasolina, mas a tendência é que o país crie leis e passe a consumir biodiesel a partir de 2008", afirma Daniel D'Ávila, analista da Fimat Futures em Nova York.

A Europa já recorre ao biodiesel desde 2005. Naquele mercado, a principal matéria-prima adotada é a canola, uma vez que a produtividade das lavouras de soja é baixa principalmente por conta do clima. Mas, como a oferta de canola também é insuficiente, já há na Europa uma legislação que permite a mistura de até 20% de óleo de soja no diesel.

Para César Borges de Souza, vice-presidente da Caramuru Alimentos, essa nova demanda de fato cria um mercado passível de ser explorado com bons resultados. "É uma oportunidade para exportar o produto industrializado e obter melhores margens de rentabilidade", afirma Borges.

Conforme Renato Sayeg, analista da Tetras Corretora, no mercado internacional os preços do óleo de soja também já começam a sofrer mais as influências do petróleo, desvinculando-se das tradicionais variações mais relacionadas aos preços do grão e do farelo. "É um movimento sutil, mas que tende a se tornar mais marcante ao longo do tempo. Em junho, por exemplo, grão, óleo e farelo subiram na bolsa de Chicago, mas o farelo ficou para trás", diz.

No mês passado, os contratos futuros de segunda posição de entrega do óleo alcançaram, em média, 25,15 centavos de dólar por libra-peso em Chicago, em alta de 17,38% em relação à média de dezembro de 2005. Para o grão, a mesma comparação resulta em queda de 0,60%; no caso do farelo, em baixa de 5,78%, sempre de acordo com cálculos realizados pelo Valor Data.

Na comparação entre as médias de junho de 2006 e junho do ano passado, o óleo aparece com valorização de 4,24%, enquanto grão e farelo apresentam retração - 14,46% e 18,42%, respectivamente.

Nesse contexto, outra mudança em curso observada pelos especialistas é a diferenciação entre os prêmios pagos pelo óleo bruto e os oferecidos pelo produto refinado nos portos brasileiros. Até o último dia 7, o óleo bruto que saía pelo porto de Paranaguá (PR) tinha um desconto (prêmio negativo) de 350 pontos em relação ao valor da commodity na bolsa de Chicago. O prêmio para o refinado, por sua vez, estava positivo em 48 pontos. (Colaborou FL)