Título: Primeira experiência conjunta durou apenas um ano
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Brasil, p. A4

Há pelo menos oito anos cogita-se a possibilidade de uma fusão ou parceria entre Sadia e Perdigão. As conversas entre as duas companhias se comparam àqueles namoros intermináveis. Juntas, formariam uma gigante do setor de alimentos, com receitas líquidas da ordem de R$ 12 bilhões.

A primeira tentativa de trabalho em conjunto concretizou-se em agosto de 2001, quando as duas companhias anunciaram a formação de uma joint venture para atuar no mercado externo. A BRF International Foods tinha como alvo mercados como Rússia, Egito, Cuba e África do Sul.

A expectativa era reduzir a concorrência nessas regiões e obter preços mais vantajosos. Não deu certo. A BRF projetava vendas anuais de R$ 150 milhões, com volume de 120 mil toneladas. Mas o resultado ficou aquém do esperado. No primeiro semestre de 2002, vendeu US$ 97 milhões, com volume de 117 mil toneladas.

Em outubro do mesmo ano, a falta de sinergia e a diferença de culturas foram os motivos alegados para o fim da parceria. Os executivos admitiram que diferenças nas estratégias de exportação afetaram o resultado. A Sadia preferia vender para clientes finais, enquanto a Perdigão negociava grandes volumes para grandes traders, segundo fontes informaram na época. Também teria contribuído a retração dos preços no mercado internacional, principalmente na Rússia.

Na época, alguns analistas avaliaram a união como um erro porque a BRF teria sido criada sem o planejamento necessário. Pouco antes da criação da joint venture, a Sadia teria iniciado parcerias com canais de distribuição da Rússia para atingir o varejo com sua marca. A BRF, segundo fontes do setor, "atropelou" esses planos antes que a estratégia tivesse resultado.

Separadas em novembro de 2002, as empresas seguiram seus próprios caminhos. A Sadia - controlada pelas famílias Fontana e Furlan - nunca deixou de buscar novas alianças estratégicas e parcerias. A Perdigão manteve a estrutura da trading na Rússia. A Brazilian Fine Foods (BFF) inclui escritório e a marca registrada Fazenda.

No primeiro semestre de 2004, as duas empresas voltaram a se aproximar. O reencontro teria sido "arranjado" pela GP Investimentos. Mas o negócio não avançou, porque o padrinho pleiteava, segundo fontes do setor, uma participação na empresa resultante da fusão. Os controladores da Perdigão reagiram e resistiram às exigências da GP. A Perdigão é controlada por fundos de pensão (entre eles Previ, Petros e Sistel).