Título: Quércia tenta zerar o jogo de PT e PSDB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Política, p. A7

Tradições existem para serem quebradas, e, portanto, o fato de a última eleição polarizada entre dois candidatos a governador em São Paulo ter ocorrido em 1958 não significa que isto não possa ocorrer este ano e garantir a vitória do tucano José Serra ainda no primeiro turno. Mas o pemedebista Orestes Quércia é um homem atento à história que aposta no retrospecto das últimas sete eleições no Estado como um dos fatores para conseguir seu grande objetivo: levar a disputa paulista ao segundo turno.

A eleição de 1958 antepôs Carvalho Pinto, apoiado por Jânio Quadros, a Adhemar de Barros. Foi a única ocasião - única, frise-se- que um candidato a governador de São Paulo teve mais de 50% dos votos em eleições democráticas em toda a história.

Na melhor hipótese, caso esteja no segundo turno, poderá negociar em posição de força o apoio do PT à sua candidatura, já que do outro lado é 99,9% certo que estará Serra, com o apoio do candidato presidencial da sigla, Geraldo Alckmin. Caso fique de fora, terá poder de barganha para pactuar seja com Serra, seja com o petista Aloizio Mercadante. Adia o momento de voltar a conversar com outras forças políticas para daqui a três meses. Ao lançar-se, tenta reembaralhar o jogo dos adversários.

-------------------------------------------------------------------------------- "Segurança pode definir a eleição em SP e no País" --------------------------------------------------------------------------------

A opção por disputar o governo de São Paulo foi a que restou a Quércia depois de duas negociações frustradas: o pemedebista poderia aceitar ser candidato a senador na chapa de Mercadante ou vice-governador na chapa de Serra, mas jamais o contrário, como foi exatamente o que lhe foi oferecido: o posto de vice com o petista e candidato ao Senado com o tucano, dois postos para andar de braços dados com uma derrota altamente provável. "A hipótese da aliança com o PSDB era uma solução de comodidade, que permitia negociar participação no governo e fortalecer nossos prefeitos. Já o PT nunca teve muito o que oferecer. Mas hoje eu vejo que esta não seria a melhor situação para o partido", diz.

Além da tradição que se renova, as bombas com efeito de tempo que explodem no Estado também podem facilitar a tarefa do ex-governador em abrir o quadro da disputa paulista. "Esta questão da segurança pública, com os ataques do PCC, podem ser o dado decisivo para a eleição não ser decidida no primeiro turno em São Paulo", diz Quércia, apostando em seguida na hipótese contrária no plano nacional. "Na eleição para presidente, atinge Alckmin e reelege o Lula no primeiro turno. Pode ser que Lula perca votos se sofrer acidentes no meio do caminho, mas no caso do Alckmin os acidentes estão acontecendo logo no começo da corrida", comenta. Para Quércia, os ataques de tucanos e pefelistas ao governo federal, ao PT e até à elite branca e perversa são uma estratégia de minimização de danos. "Eles jogam na divisão de responsabilidades, mas vão ter dificuldades para convencer o eleitor. Afinal, se Lula oferece ajuda e eles recusam, fica difícil argumentar que o governo federal é omisso", exemplifica.

Reeleito no primeiro turno, Lula deverá alguns favores ao PMDB, mas o partido estará longe de ser o fiador da vitória, segundo Quércia. "O presidente espera contar com o partido é no Congresso, e não nas urnas. Trabalhou pela aliança já no primeiro turno, verbalizou isso para mim, mas está preocupado mesmo é com o Legislativo, porque sabe que no mínimo o partido repete a bancada de 2002 na Câmara e no Senado", diz.

Aliado ao PP do ex-governador Paulo Maluf e tendo o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Delfim Netto como seu coordenador de campanha, Quércia vê justificados motivos para acreditar que transita na mesma avenida eleitoral de Serra e seus aliados do PFL. "É óbvio que, se eu crescer, tiro votos de Serra e não de Mercadante. Afinal, quando ele não era incluído nas pesquisas, eu liderava", afirma o pemedebista. Guardadas as proporções, Quércia representa para Serra o mesmo que Garotinho representava para Lula: uma ameaça sobre a sua reserva de votos. Foi depois da inacreditável greve de fome de Garotinho, a pá de cal em sua candidatura presidencial, que Lula despontou nas pesquisas como vencedor da eleição no primeiro turno.

O ex-governador fluminense, aliás, ainda permanece na alça de mira de Quércia, depois que o paulista travou uma operação de guerra para impedir sua candidatura presidencial pelo PMDB. "O PMDB ajuda muito o Lula não tendo candidato a presidente, mas quem ajudou mesmo o PT foi o Garotinho, dividindo o lado do partido que queria a candidatura própria, enquanto o outro lado ficou unido. Ele foi o grande responsável por toda essa situação, ao tentar impôr o seu nome aos quadros tradicionais do partido", diz Quércia.