Título: CPI do Tráfico de Armas identifica atuação do PCC em oito Estados
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Política, p. A7

Panfleto apreendido em Ferraz de Vasconcelos (SP): maus tratos nos presídios A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) já se estende por oito Estados. A constatação é da CPI do Tráfico de Armas da Câmara, que investiga o comércio ilegal de armamentos e munições no país. Os grupos mais estruturados fora de São Paulo atuariam em Mato Grosso e no Paraná, além de terem base em Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, segundo o sub-relator da CPI do Tráfico de Armas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

Em São Paulo, epicentro da crise, dos 150 mil presos, 100 mil tem ligações com o PCC, segundo Jungmann. Os conflitos entraram no 67 dia e ainda não há garantias de que o governo tenha controle da situação. No fim de semana, as ações do PCC diminuíram em número e intensidade, mas ainda não cessaram. Ontem, na cadeia pública de Igaraçu do Tietê (SP) 36 presos fugiram. Uma pessoa morreu e outra ficou ferida. Em Porto Ferreira (SP), houve uma tentativa de fuga de cadeia que deixou um guarda civil ferido.

A greve dos agentes penitenciários, iniciada na quinta-feira, atingiu ontem onze presídios do Estado. Em São Paulo, na noite de sábado, os criminosos atacaram bases policiais, uma viatura da guarda municipal e uma agência do Unibanco e incendiaram três ônibus.

Novas rebeliões, previstas para o fim de semana, foram evitadas com a transferência de líderes do grupo criminoso para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). A tentativa de motim foi interceptada com escuta telefônica e combatida com a investigação policial. Mas o balanço das ações do governo paulista nos mais de dois meses de crise da segurança mostra que o Estado ainda não é capaz de evitar outros ataques.

Os dois grandes movimentos violentos do PCC, em maio e em julho, configuram uma crise que se anuncia desde os primeiros dias do ano. Em janeiro, a tentativa frustrada de resgate de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, iniciou a terceira onda de atentados da facção no Estado -as anteriores foram registradas em 2001, com 29 rebeliões em presídios de todo o Estado e em 2003. No início de 2006, os criminosos atacaram bases policiais, mataram um policial militar e deixaram outros dois feridos. O governo admitiu falhas na segurança, geradas com a desarticulação das secretarias de Administração Penitenciária e de Segurança Pública, mas as únicas medidas anunciadas pelo então governador Geraldo Alckmin foram de reforço policial, com um aumento salarial e a compra de novas armas.

Em março, foram reveladas fotos de Marcola falando livremente ao celular, dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (SP). Ele sofreu represálias e desencadeou uma série de rebeliões pelo Estado. Nos três primeiros meses do ano, foram 31 rebeliões, mais do que as 27 de todo ano de 2005.

Em maio, com a transferência de 765 presos para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, teve início a onda de ações criminosas do PCC. O resultado foram 123 mortos em uma semana. Na época, os quatro principais homens da segurança do Estado divergiam sobre as ações de combate ao crime organizado. Sob pressão, Furukawa saiu do cargo.

Na ocasião, tanto José Serra, candidato do PSDB ao governo do Estado, quanto Alckmin, postulante à Presidência, estavam nos Estados Unidos. Serra só voltou depois do fim da primeira onda de ataques.

A situação causou mal-estar entre o governador Cláudio Lembo (PFL) e Alckmin, criticado pelo pefelista por seu distanciamento. O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, ofereceu a transferência de Marcola para um presídio federal e o envio de tropas da Força Nacional, mas Lembo não aceitou a oferta.

Lembo afirmou que bastava a ajuda da Polícia Federal e as duas policias iniciaram investigações sobre a contabilidade do PCC para desarticular sua estrutura financeira. Foram investigadas também cooperativas de perueiros, ligadas ao comando criminoso. Mesmo como anunciada prioridade, os investimentos da Segurança foram contingenciados. Os recursos para a polícia Técnico Científica tiveram cortes de 47,39%. A ação de inteligência policial, de acordo com dados de execução orçamentária, organizados pela bancada do PT na Assembléia paulista, indicam que foram executados somente 26% do previsto.

O governo estadual reconhece o contingenciamento, mas critica a União por não ter repassado R$ 76, 3 milhões para investimentos. O ministério da Justiça, por sua vez, ressalta que os recursos federais devem servir como complemento, e que o governo do Estado mostra-se dependente da transferência.

Na sexta-feira, o governo federal garantiu repasse de R$ 100 milhões para a reforma de penitenciárias e equipamentos de inteligência.

Durante o embate travado entre os dois governos, a situação permanece como antes da crise. O bloqueio de celulares só durou 20 dias. O secretário de Segurança admitiu que nem tão cedo não conseguirá resolver o problema e que a escuta telefônicas é uma das principais estratégias para identificar líderes da facção e identificar próximas ações.

A estratégia ainda não é totalmente eficaz. A polícia soube, com quase um dia de antecedência, dos ataques da semana passada, mas isso não foi suficiente para evitá-los.(Com Folhapress)