Título: Lula admite concessões na área de bens industriais
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Especial, p. A16

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil tem disposição "total" para fazer concessões na área industrial, afim de alcançar um acordo de liberalização do comércio global na OMC, dando a entender que não teme reações do empresariado refratário a enfrentar maior concorrência externa.

Durante entrevista, ontem em São Petersburgo, o presidente foi indagado se assumiria o risco político de enfrentar o empresariado paulista ao aceitar corte mais profundo das tarifas de importação. Lula, que tinha acabado de coordenar uma reunião com outros dirigentes de países em desenvolvimento, retrucou: "Por que tem que ser risco e não ganho político para o Brasil?". O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, completou: "E ganho econômico também".

"Não estou pensando numa categoria de empresários em especial, estou pensando no Brasil e no futuro do comércio mundial", disse Lula. Para o presidente, quem precisa sair ganhando na Rodada Doha são os países mais pobres, sobretudo os da África. E que não se pode ter medo de negociar, porque o que está em jogo pode determinar o desenvolvimento nos próximos 20 a 30 anos.

Lula insistiu que o número que o Brasil tirar do colete, como oferta para cortar as tarifas industriais, "será para o país ganhar". Segundo negociadores, o Brasil já teria admitido informalmente que aceita uma fórmula com coeficiente 20, mas com bastante flexibilidade. Significaria que a tarifa máxima não cairia para 12,7%, mas para algo em torno de 23%. Em todo caso, coeficiente 22 a esta altura não pode ser excluído, embora os americanos e europeus insistam que precisam de corte "real" na área industrial para dar a contrapartida de corte "efetivo" em subsídios e tarifas agrícolas.

Depois de meses martelando na necessidade de uma reunião dos principais líderes mundiais para desbloquear a Rodada Doha, o presidente Lula participa hoje com outros dirigentes emergentes de um almoço de trabalho com o G-8. A chanceler alemã Ângela Merkel vai introduzir o tema do comércio. Se todos os presentes decidirem falar, não sobrará mais do que alguns minutos para cada um. Mais importante será mesmo o encontro bilateral com o presidente Bush, na parte da manhã.

Lula insistirá que "se não houver decisão política, dificilmente haverá acordo" na OMC. "O problema é político, não mais econômico", disse, mas reiterou que "continua otimista" e que "o Brasil cumprirá sua parte".

Ontem pela manhã, Lula aproveitou a folga na agenda para visitar pontos turísticos de São Petersburgo, entre eles o museu Hermitage, que possui acervo com três milhões de obras. Ele permaneceu 45 minutos no museu e chegou a ser aplaudido por alguns turistas mexicanos e espanhóis. (AM)