Título: Cúpula pede moderação a Israel e a abertura dos mercados energéticos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2006, Especial, p. A16

Sem oferecer uma declaração política de peso em relação às negociações comerciais na OMC, como queria o Brasil, o G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia) procurou mostrar resolução sobre outras questões na reunião de cúpula em São Petersburgo, na Rússia. O encontro termina hoje, quando haverá a reunião do G-8 com líderes de cinco países emergentes (Brasil, China, Índia, África do Sul e México).

Um documento assinado pelos líderes dos oito países (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) pede para que Israel mostre a máxima contenção em sua operação militar no Líbano. Não foi isso o que se viu ontem, e não parece provável que a declaração do G-8 vá influenciar o conflito.

"Nossa mensagem para Israel é: defenda-se, mas tenha em mente as conseqüências", disse o presidente americano, George W. Bush. O texto ataca "elementos extremistas e aqueles que os apóiam" no Oriente Médio, numa referência indireta à Síria e ao Irã, e os responsabiliza pela eclosão deste novo episódio de violência na região.

Mas os governos da Rússia e da França foram mais duros nas críticas à "resposta desproporcional" de Israel à captura de dois soldados pelo grupo xiita Hizbollah. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que além de buscar salvar seus dois soldados, "Israel persegue objetivos estratégicos mais amplos" com a ação no Líbano, mas não disse quais.

Segundo o presidente francês, Jacques Chirac, "é evidente que o G-8 está pedindo um cessar-fogo". Mas não é essa a interpretação dos EUA. "Não houve iniciativa de nenhum país por um cessar-fogo", disse Nicholas Burns, subsecretário de Estado dos EUA.

A principal preocupação dos líderes mundiais é que o conflito não se espalhe para outros países da região. A Síria ameaçou responder a um eventual ataque de Israel. Uma escalada maior da crise poderia elevar ainda mais os preços do petróleo, que já atingiram níveis recordes nos últimos dias.

Em relação a segurança energética, um dos principais temas da reunião, o G-8 aprovou um documento no qual defende um mercado de energia "aberto e transparente", numa aparente menção a uma abertura do mercado russo a empresas estrangeiras, o que o governo russo vêm evitando.

Os países da Europa Ocidental, que dependem do gás importado da Rússia, temem que Moscou use cada vez mais a energia como uma ferramenta de pressão em sua política externa. Os europeus pressionam a Rússia para que assine um acordo internacional sobre abertura do setor energético.

O comunicado do G-8 menciona ainda a energia nuclear como opção para aqueles que assim o quiserem, numa referência indireta ao programa nuclear iraniano, acusado pelo Ocidente de ter finalidade militar, e não de produção de energia. A Rússia resiste à adoção de sanções internacionais contra o regime islâmico do Irã.

Um outro ponto sobre o qual não houve o progresso esperado é a adesão da Rússia à OMC. O presidente Putin esperava que pudesse ser alcançado nesses dias o acordo final com os EUA, o que acabou não ocorrendo. Para aderir à entidade, a Rússia precisa da concordância de todos os países-membros. E os EUA ainda não fecharam a negociação quanto às condições para aprovar a entrada dos russos.

O presidente Bush afirmou ontem que havia avanços nessas negociações, mas não um acordo. O principal obstáculo seria a aceitação por Moscou de maior acesso a seu mercado para produtos agrícolas americanos.