Título: VarigLog terá dificuldades para reequipar frota
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2006, Empresas, p. B3

Se arrematar a sua antiga controladora no leilão remarcado para amanhã, a VarigLog enfrentará dificuldades com as empresas de leasing de aviões para reequipar a frota da Varig e permitir que a companhia aérea reverta o processo de declínio acentuado nas últimas semanas.

Pelo menos duas dezenas de aeronaves hoje em poder da Varig, tanto aquelas em operação quanto outras temporariamente paradas, já estariam comprometidas ou sendo negociadas com aéreas concorrentes, no Brasil ou no exterior.

Isso deve dificultar os planos da VarigLog de colocar a sua ex-controladora em rota de crescimento. De cerca de 60 aviões que a Varig operava na virada do ano, apenas 13 jatos têm voado normalmente. Os demais estão impedidos de decolar por problemas de manutenção ou por decisões judiciais, em processos movidos pelas empresas de leasing.

Estimativas do consultor em aviação Paulo Bittencourt Sampaio, que monitora os dados do setor com base em números fornecidos pelas próprias companhias aéreas, indicam que a Varig tem hoje menos de 5% de participação no mercado de vôos domésticos. Até linhas tradicionalmente rentáveis, como Brasília-São Paulo (Congonhas e Guarulhos), foram suspensas. Em junho, a participação da aérea era de 10,5%.

Mesmo que a VarigLog efetive a compra da Varig e coloque em dia o pagamento aos arrendadores, como são conhecidas no setor as empresas que alugam os aviões, o mal-estar criado nos últimos meses poderá impedir, em muitos casos, a renovação dos contratos. "Se as grandes e as pequenas empresas de leasing estão brigadas com a VarigLog, como recuperar a frota?", questiona Sampaio.

Fontes próximas aos credores privados relatam que as conversas com a cúpula da VarigLog transcorreram em clima tenso e que a relação com aos arrendadores está bastante deteriorada.

Com esse quadro e a demanda mundial por aeronaves em alta, as empresas de leasing não têm problemas para encontrar novos clientes. Nos vôos intercontinentais, por exemplo, a Varig opera atualmente com apenas seis aviões: três modelos MD-11 e três jatos Boeing 767.

Segundo o consultor, esses três MD-11 pertencem à arrendadora americana Central Air, que já teria negociado a transferência das aeronaves à transportadora UPS. Seus contratos expiram em novembro, dezembro e janeiro. "Todos estão comprometidos com o transporte de cargas", afirma Sampaio.

Outros quatro aviões MD-11 da Varig, atualmente em solo, teriam sido negociados com a aérea russa Aeroflot. A International Lease Finance Corporation (ILFC), que busca recuperar suas aeronaves na Justiça, tem dois jatos 737-700 e um Boeing 737-300 com a Varig.

É informação corrente no mercado que os três aviões devem ir para a Gol, companhia que vem abocanhando boa parte da antiga clientela da Varig e enfrenta dificuldades para encontrar mais aeronaves disponíveis no mercado externo.

O mesmo destino podem ter ainda quatro modelos 737 da GATX. No caso dos oito Boeings 777, antes usados nos vôos para a Europa ou para os Estados Unidos, sete estão parados no aeroporto do Galeão. "As empresas de leasing querem retomar todos esses aviões, já que o 777 é um modelo com altíssima liqüidez no mercado internacional", observa o consultor.

Duas unidades foram alugadas à Varig pela ILFC, duas pela própria Boeing, três pela Bristol (ligada a um banco americano) e uma pela Orix.

Apesar das incertezas, os credores estatais ainda apóiam a realização do leilão e dizem que a proposta de compra da VarigLog é melhor do que a falência. "Havendo uma confissão de dívida, isso nos possibilita reaver alguma coisa no futuro e ajuda o balanço da empresa agora, na medida em que ficamos com um recebível na mão", diz o presidente da Infraero, José Carlos Pereira.

Pereira desmente categoricamente rumores que circularam, nos últimos dias, de que o Palácio do Planalto orientou as estatais a votar favoravelmente ao plano da VarigLog. "A orientação que veio foi manter-se dentro da lei e tentar reaver os créditos", diz o presidente da Infraero, para quem o leilão ainda é, "sem dúvida", a melhor solução.