Título: PTB e PP lideram lista dos denunciados
Autor: Jayme, Thiago Vitale e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2006, Política, p. A6

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes aceitou, na noite de ontem, o pedido de inquérito contra mais 42 parlamentares acusados de participação no escândalo de desvio de verbas públicas para a compra de ambulâncias superfaturadas. Já havia sido determinada a abertura de inquérito contra 15 envolvidos no escândalo denunciados pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. A CPI das Sanguessugas divulgou ontem o nome dos 57 parlamentares.

Esses políticos fazem parte de um grupo de supostos envolvidos sobre os quais o Ministério Público Federal entende haver a necessidade de uma profunda investigação para avaliar qual é a verdadeira ligação deles com a quadrilha acusada de superfaturar a compra de ambulâncias por diversos municípios do país.

Os mesmos partidos envolvidos no escândalo do mensalão puxam a fila dos parlamentares acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias. O PP e o PTB têm 13 deputados cada entre os suspeitos. Logo atrás vem o PL, com dez. Em seguida, vem o PMDB, com quatro deputados e um senador, o líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB). O PFL e o PSB têm quatro deputados cada e o PSDB tem três. Fecham a lista o PSC (dois), o PRB (dois) e o PPS (um). O PT, partido do presidente Lula e um dos maiores acusados de envolvimento com o mensalão, ficou fora dessa primeira relação de investigados. E o partido do vice-presidente José Alencar, o PRB, tem toda a sua bancada de dois parlamentares envolvida no esquema.

A lista foi elaborada pelo procurador-geral da República. Antonio Fernando pediu ao Supremo abertura de inquérito contra esses parlamentares por entender que há indícios suficientes para o aprofundamento das investigações. Todos já foram notificados pela CPI e deverão apresentar suas defesas no prazo de cinco dias.

O estado com maior número de acusados é o Rio de Janeiro, com 13 deputados. São Paulo vem logo em seguida, com 10. O Mato Grosso tem apenas oito deputados representados no Congresso Nacional. Desses, cinco estão na relação de supostos envolvidos. Em Cuiabá funciona a sede da Planam, empresa acusada de liderar todo o esquema de venda superfaturada de ambulâncias. Bahia e Minas Gerais são os outros dois estados com número significativo (quatro) de deputados denunciados.

A divulgação dos nomes só foi possível depois de uma reunião com o ministro do STF Gilmar Mendes, relator dos inquéritos das Sanguessugas. O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), o relator da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), e o subrelator e deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) estiveram com o magistrado. A corte havia decretado segredo de Justiça dos inquéritos.

No encontro, Gilmar afirmou que manteria o segredo de Justiça do conteúdo dos inquéritos, mas a divulgação, no Valor, dos nomes dos parlamentares já notificados pela CPI por terem sido citados nas investigações não ofenderia o sigilo. "O ministro manteve o sigilo, mas nos autorizou a divulgar os nomes", afirmou Biscaia. A liberação contou com a ajuda da presidente do STF, ministra Ellen Gracie, com quem o presidente da CPI se reuniu na última quarta-feira. A magistrada concordou que a divulgação seria benéfica para a Câmara. "Não podíamos deixar recair sobre os 513 deputados acusações que têm sido feitas a 57", explicou Carlos Sampaio. "Isso não significa que nosso relatório final vá considerar todos culpados. Podem ser menos ou podem ser mais de 57", esclarece Biscaia.

A lista, de fato, deve crescer. Em depoimento à Justiça Federal no Mato Grosso, na semana passada, o dono da Planam, Luiz Antonio Vedoin, revelou diversos nomes de parlamentares supostamente envolvidos com o esquema. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da CPI, fez uma comparação da lista encaminhada pelo procurador-geral com aquela feita por Vedoin. Somadas, apontam para suposta participação de 90 parlamentares e 10 ex-parlamentares.

O líder do PP, Mário Negromonte (BA), mostrou surpresa por ter seu nome listado pelo Ministério Público. "Estou abismado e estarrecido. Preciso tomar conhecimento do teor da denúncia", afirmou. Até agora, diz o deputado, a única menção feita ele era em uma conversa entre dois empresários do esquema. No diálogo, um deles informa ao outro que Negromonte assumira a liderança do partido.

Em nota, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, defendeu a expulsão dos integrantes do partido que estiverem envolvidos no esquema. "O PSBD não admitirá em seus quadros pessoas envolvidas em quaisquer práticas ilícitas, especialmente em um episódio vergonhoso como este", disse. "Não podemos, hipocritamente, exigir a moralidade e a honestidade, sem praticá-la. Não pode haver outro caminho senão a expulsão de nossos quadros". O PPS informou que pedirá ao deputado Fernando Ricardo Estima (SP) que entregue à Executiva do partido a mesma defesa prévia que apresentará à CPI dos Sanguessugas, para então tomar uma decisão sobre o caso.