Título: Reservas batem dívida externa do setor público
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2006, Finanças, p. C3

Em clima de campanha eleitoral, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou ontem que, pela "primeira vez na História do país", o Brasil se tornou credor em dólar. Segundo o ministro, no último dia 17, o estoque da dívida externa era de US$ 63,284 bilhões, enquanto as reservas internacionais chegaram a US$ 64,019 bilhões, gerando um saldo positivo de U$ 734,7 milhões.

"Somos credores e não devedores. O Brasil saiu do cheque especial e já tem crédito. É uma situação bem confortável", comentou Mantega, em entrevista na portaria do Ministério da Fazenda. O ministro apresentou os números, na manhã de ontem, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Isto é um feito importante", disse. "Talvez, seja a primeira vez na História do país que temos essa situação."

Mantega se referiu, na verdade, à dívida externa do setor público. No caso da dívida do setor privado, os números do Banco Central mostram que, depois de declinar nos três primeiros anos do governo Lula, o débito voltou a crescer nos últimos meses.

Entre setembro de 2005 e maio deste ano, expandiu 6,4%, atingindo US$ 66,578 bilhões. Uma explicação possível é a valorização do real frente ao dólar, fato que cria um incentivo para as empresas nacionais contraírem débitos no exterior.

No fim da tarde, o governo divulgou o documento da apresentação feita por Mantega a Lula. No texto, o ministro diz que o governo fez uma "faxina" na dívida externa. Ele menciona oito iniciativas nessa direção, entre elas, o pagamento antecipado da dívida junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Clube de Paris, entidade que representa os governos credores, e a troca de C-bonds por papéis de prazo mais longo. "O presidente Lula ficou muito satisfeito porque uma das prioridades do nosso governo era reduzir a vulnerabilidade externa porque, sem isso, você não pode ter crescimento sustentável", celebrou Mantega.

O ministro assegurou que o Brasil continuará acumulando reservas. "A tendência é que a gente continue comprando (dólares)", disse ele, mencionando os exemplos de países emergentes que possuem reservas superiores à brasileira. "Se olharmos para as reservas que possuem os países emergentes parecidos com o Brasil, como a Rússia, a Coréia, o colchão de liquidez ainda pode encher mais. Os países que têm as maiores reservas possuem uma posição mais estável, mais segura, de maior confiança."