Título: Para Haddad, aliança com PCdoB avança
Autor: Lima,Vandson
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2012, Política, p. A9

Acuado por um horizonte pouco promissor - ao menos momentaneamente - para o acerto de alianças que deem suporte à sua candidatura a prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad tem aproveitado o marasmo nas negociações para afinar o discurso que levará à campanha. A cada plenária nos bairros da cidade, aumenta o tom das críticas ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) e exalta os feitos da gestão da correligionária Marta Suplicy, a quem quer em seu palanque.

Para os petistas, a debandada de potenciais parceiros nas urnas deve cessar assim que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se recupera de um câncer na laringe, voltar à articulação política, o que deve ocorrer já na próxima semana, quando Lula conversará com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, partido também sondado pelos tucanos.

Haddad prega haver "muita especulação e pouca novidade" nas conversas. "Tenho falado muito com dirigentes de outros partidos, mas não há data marcada para uma conversa definitiva. Minha percepção é de que as conversas vão andar um pouco mais", avaliou. Siglas da base aliada do PT no plano federal tem mantido um diálogo que pode até se converter em junção de forças para a disputa municipal, conforme revelou ao Valor o vereador e pré-candidato Netinho de Paula (PCdoB). De acordo com o parlamentar, PCdoB, PDT, PMDB e PRB - todos com pré-candidatos postos - tem conversado sobre a possibilidade de se oferecerem unidos como uma terceira via ao eleitor, quebrando a polarização PT versus PSDB.

"Conversei com dirigentes do PCdoB recentemente. Não ouvi deles esse tipo de referência", apontou Haddad ao enumerar seus contatos na sigla. "Conversei com o vereador Jamil Murad, com o [ex-ministro do Esporte] Orlando Silva, que foi meu aluno na USP, com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e com o Aldo Rebelo, [atual ministro do Esporte]". A última vez que esteve com Netinho, no entanto, foi para lhe prestar apoio na eleição ao Senado, em 2010, alegou o petista.

Em visita a dois bairros da zona norte da cidade, Haddad evitou cobrar da presidente Dilma Rousseff ações mais incisivas de apoio à sua pré-candidatura. Partidos da base aliada querem mais espaço no governo para oferecer seu apoio ao petista. "Nós saberemos respeitar qualquer que seja sua decisão. Ela está sinalizando claramente que a equipe que está formando atende aos interesses de seu governo". Questionado se ao menos "torcia" pelo apoio de Dilma, declarou: "Se eu disser que estou torcendo, posso gerar um constrangimento desnecessário".

Na plenária feita com a militância local, Haddad considerou insuficiente o número de obras tocadas pela atual gestão, contada desde a posse de José Serra (PSDB) e continuada por Kassab. "Não se vê um tapume da prefeitura pela cidade. Na nossa gestão você via obra para todo lado. Eles, com três vezes mais orçamento e o dobro de tempo [do governo Marta Suplicy] fizeram menos", defendeu.

Haddad pregou a necessidade de o PT comandar São Paulo por um período maior que um mandato para mostrar do que é capaz. "Nós precisamos governar São Paulo por oito anos para mostrar o que é mudança. Aí vamos ganhar o coração dessa cidade", garantiu.