Título: Dono da Planam teria denunciado 105 parlamentares
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2006, Política, p. A6

No depoimento prestado à Justiça Federal do Mato Grosso, repassado à CPI das Sanguessugas na semana passada, o empresário Luiz Antonio Vedoin teria citado o nome de pelo menos 105 parlamentares com os quais manteve contato nos anos de funcionamento do esquema de superfaturamento para a compra de ambulâncias. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice presidente da CPI, revela que o depoente apontou todos esses políticos como beneficiários diretos ou indiretos de dinheiro da quadrilha.

"Eu mesmo contei ontem (terça-feira). São 105 parlamentares com mandato envolvidos de alguma forma, isso segundo o depoimento do Vedoin", diz Jungmann. O deputado chega a dividir essa centena de congressistas em três grupos distintos. Há aqueles que teriam recebido dinheiro diretamente em suas contas correntes, outros que teriam indicado contas de parentes, amigos ou assessores como o destino da verba e ainda os que receberam dinheiro vivo. "A maioria é da categoria daqueles que pediram um depósito na conta de alguém de sua confiança", afirma Jungmann. Os depósitos seriam de R$ 2 mil, em média.

Na CPI, ficou exposta ontem divergência na Executiva do PSDB quanto ao que fazer com os sanguessugas do partido. Carlos Sampaio (PSDB-SP), membro da Executiva e um dos sub-relatores da CPI, fez críticas indiretas ao presidente de seu partido, o senador Tasso Jereissati (CE), por haver divulgado nota, na terça-feira, defendendo a expulsão dos integrantes do PSDB que estiverem envolvidos no esquema. Na nota, Jereissatti dizia que o PSDB não admitirá em seus quadros pessoas envolvidas em quaisquer práticas ilícitas. Não pode haver outro caminho senão a expulsão dos nossos quadros".

Segundo explicações do PSDB, estas providências serão tomadas quando houver a comprovação das denúncias. Os três tucanos mencionados no inquérito das Sanguessugas são Itamar Serpa (RJ), Paulo Feijó (RJ) e Eduardo Gomes (TO).

Para Carlos Sampaio, "talvez tenha sido uma declaração forte de um presidente de partido, mas acabou levando a um equívoco". Segundo o deputado, a lista dos 57 congressistas indicados pela Procuradoria-Geral da República não tem apenas culpados. "Mencionados e referidos não têm nada a ver com acusados e condenados", diz.

Sampaio achou estranho, também, não ter sido consultado pelo presidente do partido sobre a nota, uma vez que faz parte da executiva nacional do PSDB e é sub-relator da CPI das Sanguessugas. "A precaução que a CPI tomou, alguns partidos não tomaram", disse.