Título: Cresce responsabilidade de Lula e Alckmin por cris
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2006, Política, p. A8

Os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) aumentaram as cobranças aos dois principais candidatos à Presidência sobre a crise de segurança enfrentada pelo Estado de São Paulo. No segundo mês de ações do crime organizado, 25% dos eleitores atribuem "muita responsabilidade" aos postulantes, segundo indica pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha. Distante do governo paulista, quem safou-se foi a senadora Heloísa Helena (P-SOL).

A percepção dos entrevistados, uma semana depois dos novos ataques, revela que houve desgaste na imagem do petista e do tucano. A responsabilidade atribuída a Lula aumentou de 30% para 35%. No caso de Alckmin, cresceu de 29% para 32%, entre maio e julho. O governador Cláudio Lembo, sucessor do tucano em São Paulo, também foi mais cobrado e o percentual de pessoas que atribuem "muita responsabilidade" ao pefelista aumentou em seis pontos percentuais, de 32% para 38%.

O levantamento foi feito em meio a uma semana marcada por atentados violentos, o noticiário dividiu espaço com insinuações do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, de Alckmin e José Serra, candidato do PSDB ao governo paulista, de que o PT tem ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O governador Lembo, por sua vez, disse que o presidente Lula estaria "desequilibrado", gerando mal-estar. Depois, desmentiu que teria problemas com o petista, recusou o envio de tropas federais e pediu verbas. Na sexta-feira, Lula liberou R$ 100 milhões para o Estado.

A senadora Heloísa Helena ficou fora da troca de acusações entre PT, PSDB e PFL sobre a responsabilidade pelos ataques do crime organizado.

O resultado dos ataques entre os partidos pode ter se revertido em votos para Heloísa Helena. Os eleitores da senadora mostram-se como os mais críticos e são os que mais atribuem responsabilidade ao Judiciário, ao Legislativo e aos políticos paulistas. Eles também aparecem na pesquisa como os com maior nível de conhecimento dos ataques do crime organizado em São Paulo e são os menos crentes na diminuição dos ataques caso o governo federal envie tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública ao Estado.

A desconfiança também é registrada em quase um terço dos eleitores de Lula, apesar de a oferta feita pelo presidente, de enviar ajuda federal, ser aceita por 88% dos entrevistados.

Entre aqueles que declaram voto em Alckmin e Heloísa Helena, a leitura predominante sobre os ataques do PCC indica que o grupo criminoso quer "jogar a população contra as autoridades". Já os simpatizantes da candidatura Lula tendem a escolher a alternativa que mostra os ataques como uma forma de os presos melhorarem suas condições de vida.

O levantamento mostra que que os poderes Executivo e Legislativo continuam sendo considerados como os principais responsáveis pela crise, na percepção da população. Dos entrevistados pelo instituto Datafolha, 46% acreditam que juízes e promotores têm a maior parcela de culpa pela eclosão da onda de violência em São Paulo. Em maio, eram 44%. Os deputados e senadores são os maiores culpados para 45% . Na sondagem anterior, eram 42%.

O medo de ataques do PCC não ficou restrito a São Paulo. No Rio de Janeiro, 63% das pessoas entrevistadas temem ser vítimas da violência, seis pontos percentuais a mais que em São Paulo e 11 pontos superior ao que foi registrado em Minas Gerais.

As duas pesquisas - sobre segurança pública e intenção de votos para a Presidência da República - foram realizadas pelo Datafolha nos dias 17 e 18 de julho, em 277 municípios do país, logo após aos atentados do PCC. O levantamento teve 6.264 entrevistas e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.