Título: PSDB vai preservar 'mito Lula' junto ao eleitor do Bolsa Família
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2006, Especial, p. A12

O forte empenho pró-Alckmin que a cúpula da campanha tucano-pefelista pretende empreender a prefeitos do Nordeste tem na ponta um outro desafio: como convencer a massa de mais de 5,5 milhões de famílias nordestinas beneficiárias do Bolsa-Família de que vale a pena optar pela mudança e tirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da presidência da República. A região é o principal foco do programa, sendo concentrados nela metade dos recursos e das famílias beneficiadas de todo o país.

O primeiro passo para atingir o objetivo é no formato do discurso que esses prefeitos devem ter para ganhar a confiança desses eleitores. Para tanto, a aproximação deverá tratar com ponderação o "mito" que a figura de Lula exerce sobre essas classes sociais no Nordeste brasileiro. "Tem que ter cuidado na abordagem sobre o presidente da República. Não podemos agredi-lo. Vamos preservar um pouco sua imagem e seus defeitos. O mito tem que ser de alguma forma preservado", afirma um dos coordenadores da campanha.

O cuidado faz sentido. Na semana passada, o Valor visitou dez dessas famílias em Santa Bárbara (BA) e em Ribamar Fiquene (MA) e as respostas de todas elas seguem um padrão: o benefício do governo federal influencia seus votos pró-Lula, mas é rejeitada de imediato a tese de que seus votos são comprados com ele. "O programa influencia meu voto sim, mas não me sinto comprada. É como você vir fazer a refeição aqui. Se eu te tratar bem, você vai voltar, não vai? O mesmo com o Lula. Ele nos trata bem, e eu retribuo com meu voto", afirma Verônica dos Santos, 54 anos, dona de um restaurante caseiro na entrada de Ribamar Fiquene. Em Santa Bárbara, a desempregada Marieta Cordeiro de Jesus, de 57 anos diz algo semelhante: "Não me sinto comprada não. Benefício não compra ninguém. Voto vai pelo amor e amizade. E é secreto. Mas se eu não agradecer ele na eleição, vou agradecer quando?"

Passada a abordagem amena, o trabalho a ser feito será o de explorar a expectativa dessas famílias para que suas vidas melhorem. "A idéia é criar expectativas. Mais do que como está, o eleitor quer saber como ficará sua vida", diz esse coordenador. O posicionamento vai de encontro ao que todas as famílias visitadas pedem concomitantemente ao recebimento do benefício: emprego. "Quem diz que nós acomodamos com esse dinheiro não conhece nossa vida. Isso é uma ajuda. E mesmo assim a gente precisa é de trabalho. Só com esse dinheiro a gente não tem como acomodar. Tenho seis filhos. Você acha que dá para viver só com R$ 120 tendo seis filhos?", afirma a lavradora Jocélia Freitas, de 39 anos. Na mesma linha segue Jozélia dos Santos, de 27 anos, sua colega de bairro. Ela vive com o marido e dois filhos em uma casa invadida de dois cômodos. "O benefício pode acabar amanhã. Emprego eu posso ter o resto da vida."

Ao lado desse discurso de aperfeiçoar o Bolsa-Família criando as chamadas portas de saída para os beneficiários, também será trabalhada a versão de que o Bolsa-Família é, na realidade, um programa tucano implementado originário na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve apenas o nome alterado pelo governo Lula (CJ)