Título: Tendência à reeleição é mantida no 2° turno
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2006, Política, p. A5

Quem tenta um segundo mandato no Executivo no Brasil, em geral, consegue, ainda que tenha que enfrentar um segundo turno. Houve reeleição em 70% das 65 recandidaturas a governador de Estado ou prefeito de capital nas eleições de 1998, 2000, 2002 e 2004. Do grupo dos 46 que se reelegeram, 29, ou 63%, o fizeram ainda no primeiro turno. Entre os 30 que tiveram de enfrentar o segundo turno, a situação ficou mais difícil, mas ainda assim em 17 ocasiões, o prefeito de capital ou governador conseguiu o segundo mandato. Em 13 casos, perdeu a eleição.

O próprio candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, é um exemplo da tendência de como um segundo turno não "zera" uma eleição: ele ficou em primeiro lugar no primeiro turno das eleições para governador de São Paulo em 2002, disputou uma segunda rodada com José Genoino Neto (PT) e conseguiu a vitória.

O exemplo oposto - sempre citado como o desastre que um segundo turno pode significar para quem tenta a reeleição - é o da disputa no Recife em 2000, quando Roberto Magalhães (PFL) deixou de se reeleger no primeiro turno por meio ponto percentual. No segundo turno , perdeu a eleição para o petista João Paulo. Mas Magalhães representa uma minoria. Dos 13 casos em que um prefeito de capital ou governador disputou o segundo turno e perdeu, em oito deles já terminou o primeiro turno em segundo lugar, inferiorizado para buscar apoios na segunda rodada. Foi o caso, por exemplo, da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT), derrotada por José Serra (PSDB).

O crescimento das intenções de voto na senadora Heloísa Helena (P-SOL/AL) nas últimas pesquisas sinaliza para a possibilidade de um segundo turno na eleição presidencial deste ano, caso a diferença entre Lula e Alckmin se estabilize em torno de dez pontos percentuais. Mas o retrospecto amplamente favorável a quem disputa a reeleição como governador ou prefeito não pode ser aplicado de maneira integral a uma corrida presidencial. Isso porque a influência da eleição nacional nos Estados é muito maior do que o fenômeno inverso. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disputam a reeleição 18 dos 27 governadores.

A maioria das eleições disputadas em dois turnos para prefeitos de capitais ou governadores de Estados nos últimos anos mostram também que são raros os casos de uma reviravolta nos resultados entre o primeiro e segundo turnos, com uma virada eleitoral.

Nas duas últimas eleições disputadas para presidente, governadores e para prefeitos de capitais ocorreram 56 casos de segundo turno. Houve reversão do resultado do primeiro turno em apenas onze ocasiões, ou 19,6% dos casos, sem diferença substancial entre as eleições para prefeito de capitais (2000 e 2004) e governadores (1998 e 2002).

Nas eleições presidenciais desde 1989, o segundo turno foi disputado duas vezes, sem que houvesse uma virada eleitoral. Nas eleições de 1994 e 1996, quando ainda não existia reeleição, aconteceu o segundo turno em 31 eleições para governadores e prefeitos de capital, com sete viradas.