Título: Ministros do G-6 não conseguem romper impasse na Rodada Doha
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2006, Especial, p. A10

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, participou da reunião de ontem, que durou 14 horas, como mediador do acordo "Está muito duro e muito difícil" o pré-acordo agrícola e industrial que pode para salvar a Rodada Doha do fiasco, resumiu ontem um graduado negociador após 14 horas de reunião entre ministros do G-6 - grupo formado por Brasil, Estados Unidos, União Européia, Japão, Índia e Austrália. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, participou do encontro no papel de intermediário de um acordo.

A reunião começou às 10 horas na fortemente protegida missão diplomática americana. Às 22 horas, os ministros se reuniram sozinhos. Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores, recusou-se a fazer qualquer comentário. Importantes negociadores acreditam que pelo menos um "acordo menor de procedimento" ainda poderá sair, sem detalhar o que isso pode significar.

A reunião ministerial seguiu o cronograma acertado após a cúpula do G-8 (realizada na semana passada na Rússia) para levar a um acordo até meados de agosto. Foram marcados encontros ministeriais do G-6 para ontem, hoje e semana que vem. Só que a tentativa de pôr em prática a flexibilidade prometida por presidentes e chefes de Estado mostra-se mais complexa do que o esperado.

A representante de comércio dos EUA, Susan Schwab, alertara que ontem se saberia se havia oferta nova na mesa. Chegou dizendo ter "flexibilidade para fechar um acordo", mas continuou cobrando caro por isso. Já Peter Mandelson, comissário europeu de comércio, respondeu ter chegado no limite com o corte médio de 51,5% nas tarifas agrícolas. E um porta-voz europeu confirmou: "Não temos uma nova proposta".

Em São Petersburgo, o presidente americano George W. Bush foi incisivo quando se despediu do presidente Lula: "Estou preparado para fazer movimentos", disse. "Quero um big deal [acordo grande]". Bush disse ao colega brasileiro que estava pronto para ser flexível sobre subsídios domésticos, mas logo acrescentou: "Quero acesso ao seu mercado".

Mas ontem um negociador disse a que ponto a situação chegou, na tentativa de se agarrar a esperanças: "Antes Susan Schwab dizia que queria primeiro ver concessões na mesa e depois diria se tinha flexibilidade. Agora já fala logo em flexibilidade".

Os ministros voltam a se reunir hoje às 11 horas para tentar evitar o colapso. Schwab afirmara, antes de chegar a Genebra, que se não houvesse algo novo a rodada estaria mais do que nunca em perigo. Sean Spicer, porta-voz da representante americana, disse que seria "realmente ruim" se (os ministros) não voltassem na semana que vem a Genebra para continuar as discussões.

Ontem, o ministros Amorim, Schwab, o indiano Kamal Nath, o australiano Mark Vaile, o europeu Peter Mandelson e o japonês Toshihiro Nikai discutiram até quase às 18 horas praticamente só acesso ao mercado (corte de tarifas, cotas). Só mais tarde é que discutiram subsídios domésticos, tema polêmico no qual os EUA resistem aos cortes pedidos pela UE e pelo G-20. Segundo fontes, os americanos já falaram que podiam reduzir de US$ 22,5 bilhões para US$ 19,5 bilhões o limite para seus subsídios domésticos agrícolas. Mas isso é considerado pouco.

A pressão é grande sobre o G-6. Todo mundo está perdendo a paciência com sucessivas reuniões sem sucesso, com a rodada próxima do abismo. "Outros 140 países estão esperando por eles [os ministros do G-6]. A credibilidade está frágil. Se até terça-feira não houver algo para anunciar, a situação ficará especialmente desconfortável", declarou uma fonte da OMC. Os países africanos mostram-se impacientes porque acham que seus interesses não estão sendo levados em conta.