Título: Vale paga R$ 121 mi a ex-diretores
Autor: Torres,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2012, Empresas, p. B1

A dança das cadeiras na diretoria da Vale no ano passado não saiu barato para a companhia. Entre 2011 e 2012, a mineradora vai pagar um total de R$ 121 milhões ao ex-presidente Roger Agnelli e a quatro diretores estatutários que deixaram a empresa no ano passado.

As informações constam de um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que não detalha de que forma foi repartido o dinheiro. Procurada, a Vale preferiu não comentar.

São cinco pessoas no total, mas a documentação pública divulgada pela empresa indica que a saída de Agnelli explica a maior parte do pagamento.

Em 2009 e 2010, por exemplo, a Vale havia pago rescisões contratuais de diretores, mas os valores ficaram em R$ 3 milhões e R$ 3,5 milhões, respectivamente.

Agnelli e a ex-diretora de recursos humanos Carla Grasso deixaram a companhia em maio de 2011, quando o novo presidente Murilo Ferreira assumiu. Outros três diretores, Mário Barbosa, Eduardo Ledsham e Guilherme Cavalcanti, foram substituídos no fim de novembro.

Dos R$ 121 milhões, R$ 98 milhões foram pagos no ano passado, sobrando ainda uma diferença de R$ 23 milhões para 2012.

O montante de R$ 98 milhões representou quase metade do total de R$ 201 milhões que a Vale contabilizou como despesa com pagamento de remuneração a diretores e conselheiros no balanço de 2011. Em 2010, o gasto total havia sido de R$ 97 milhões.

Além das rescisões, os R$ 201 milhões incluem salário fixo, benefícios, encargos sociais, bônus e pagamento baseado em ações.

Segundo um especialista em remuneração ouvido pelo Valor sob condição de anonimato, os valores impressionam, mas fazem algum sentido se for levado em consideração os pagamentos acumulados que podem ter sido feitos.

É comum, diz ele, que haja indenizações por desligamentos sem justa causa, ou que não tenham ligação com o desempenho do executivo.

Agnelli teve atritos como o governo federal, que tem participação no bloco de controle da companhia, principalmente depois das demissões feitas durante a crise de 2008.

Os contratos da empresa com os diretores estatutários "contêm uma cláusula de indenização para os casos de rescisão ou não renovação do contrato, desde que estes eventos ocorram por iniciativa da companhia".

Essa indenização é de dois anos de salário fixo anual para o diretor presidente e de um ano de salário fixo para diretores. O pagamento é feito em quatro parcelas trimestrais e condicionado a uma "quarentena" de 12 meses, em que o executivo não pode trabalhar na concorrência.

Outro ponto que justifica esse valor é a remuneração baseada em ações.

Conforme as regras dos dois planos que a mineradora usa nesse tipo de pagamento, "em caso de rescisão ou não renovação do contrato por parte da companhia, o participante recebe os valores a que já tenha adquirido direito à época da rescisão ou término do contrato".

Um desses planos é chamado de "Incentivo de Longo Prazo". No caso do presidente, ele equivale a 125% do bônus anual. Para os demais diretores, a 75%.

Na prática, é um bônus adicional indexado ao valor das ações da companhia, que só pode ser resgatado em dinheiro após três anos.

O outro plano baseado em ações é chamado de "Matching". Os executivos podem usar diferentes parcelas do seu bônus anuais para comprar ações preferenciais da Vale. Quando determinadas condições são cumpridas, após três anos a companhia iguala, em dinheiro, o valor detido em ações pelo executivo. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)