Título: Norma brasileira disputa preferência com americana
Autor: Borges, André e Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Empresas, p. B2

O governo reconhece as dificuldades que tem para mensurar quanto o Brasil exporta em software, principalmente devido aos sistemas embarcados - programas embutidos em equipamentos que saem do país e não são devidamente contabilizados. Mesmo assim, Augusto Gadelha, secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), arrisca um palpite: "Devemos encerrar o ano com cerca de US$ 700 milhões em exportação e, quem sabe, US$ 1 bilhão no ano que vem."

São expectativas que, segundo John Lemos Forman, presidente da Associação de Empresas Brasileira de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-RJ) seguem em contradição com as prioridades do setor público no mercado nacional. "O governo, que tem o maior poder de compra neste país, não usa isso para fortalecer sua indústria local, para que ela possa se projetar também no exterior", afirma.

Gadelha aceita parte das críticas feitas pelo setor privado, mas diz que o governo tem reagido. Nos próximos dias, afirma, o MCT receberá um plano de ação para formação de recursos humanos no setor. A iniciativa, que trata da formação de técnicos e graduados em informática, deve ser apresentada a instituições como Sesc e Senac, além de escolas técnicas federais. O MCT conta com R$ 10 milhões para tocar o projeto. "O valor é bem menor do que o necessário, mas é o que está disponível no MCT hoje", comenta o secretário.

Outro desafio é ampliar o número de empresas com certificação para a criação de software. A adoção de selos internacionais - como o CMMI (Capability Maturity Model Integration), criado pela Universidade Carnegie Mellon, dos EUA - tornou-se passaporte básico para as empresas que queiram receber em dólar. Mas o preço da certificação, segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), tem sido um impeditivo para boa parte delas.

O caminho sugerido pela ABDI é adotar outra certificação: a brasileira MPS/BR (Melhoria de Processo de Software). O problema é que o selo, que recebeu investimentos de US$ 1,35 milhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem sido criticado. Empresas alegam que quem busca a certificação está atrás da padronização de processos, mas também de reconhecimento internacional, o que seria duvidoso no caso da MPS/BR.

A alternativa brasileira, contrapõem os técnicos da ABDI, pode ser um atalho mais barato para chegar ao certificado americano. Os serviços de consultoria para o padrão nacional, diz Pedro Alem, coordenador da associação, custam 40% do que é gasto com o padrão dos EUA. "Se uma empresa adquire a certificação nacional, depois só precisa da auditoria para chegar ao CMMI."

Até o fim do ano, o objetivo é levar a certificação para Argentina e Chile, conforme compromisso firmado com o BID. Mas antes disso, será preciso convencer o empresariado nacional dos seus benefícios. Lançada há mais de um ano, a MPS/BR conta com apenas oito empresas avaliadas, segundo o Softex.

Para a consultoria americana Integrated System Diagnostics (ISD), que oferece serviços de certificação em CMMI no Brasil, a economia oferecida pelo selo brasileiro é falsa. "Há um equívoco nessa discussão. O tamanho do investimento não está ligado à certificação, mas sim ao porte da empresa", diz Carlos Alberto Caram, diretor executivo da ISD Brasil. Na melhor das hipóteses, afirma, o custo seria igual. A ISD orienta cerca de 60 empresas em CMMI no Brasil. (AB)