Título: Índice do BC recua e reforça projeções de PIB fraco no primeiro trimestre
Autor: Lorenzo,Francine
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2012, Brasil, p. A2

A queda de 0,13% da atividade econômica em janeiro sobre dezembro capturada pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), feitos os ajustes sazonais, foi mais branda do que o esperado por economistas consultados pelo Valor, mas reforçou a expectativa de crescimento ainda fraco do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2012. O indicador do BC é considerado pelo mercado como um termômetro do PIB. De 15 instituições ouvidas, apenas três revisaram para cima suas projeções de expansão para o PIB entre o quarto trimestre de 2011 e os primeiros três meses deste ano na série dessazonalizada. A maioria das estimativas se concentra entre aumento de 0,5% e 0,8% para o período.

Para o ano, as previsões para o avanço do PIB foram mantidas entre 3% e 3,5% frente a 2011, contando com efeito maior do ciclo de redução dos juros no segundo semestre - que foi cortado em 0,75 ponto percentual na última reunião do Copom, para 9,75% ao ano - e mais medidas que devem ser tomadas pelo governo para incentivar a produção doméstica.

Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o comércio teve desempenho acima do normal em janeiro, com expansão de 1,4% das vendas frente a dezembro no segmento ampliado (que inclui automóveis e materiais de construção), apesar do mau comportamento da indústria, cuja produção encolheu 2,1% no período. O consumo, diz Vale, pode ter sido o dado que fez o mercado errar as projeções para o IBC-Br. "Mas em fevereiro, deve haver reversão no comércio e a produção deve cair com mais força, novamente puxada por veículos e pelo Carnaval", que, no ano passado, caiu em março, lembra o economista. Assim, a projeção da MB para a alta do PIB do primeiro trimestre, de 0,8%, pode ser reduzida.

Outro indicador mensal de atividade, o do Itaú Unibanco, registrou alta de 0,2% na passagem de dezembro para janeiro, resultado dentro do esperado pelo economista Aurélio Bicalho e que, portanto, não altera sua previsão de 0,5% para crescimento do PIB nos três primeiros meses de 2012. "O comércio evitou um resultado mais fraco da atividade e, junto com parte do setor de construção civil e outros setores, como energia elétrica, compensou a fraqueza da indústria", explica.

Para Flávio Combat, da Concórdia Corretora, a queda da indústria em janeiro ainda pode se refletir no IBC-Br de fevereiro, mês no qual a produção, segundo seus cálculos, recuou 0,5% sobre janeiro.

Os analistas da Tendências Consultoria acreditam que mesmo a indústria ajudará a fortalecer o PIB. Sua expectativa é de crescimento em torno de 1% na produção industrial em fevereiro e março, em ambos os casos na comparação com o mês anterior, o que deve garantir expansão de 1,1% do PIB no primeiro trimestre deste ano frente ao trimestre anterior.

Após a divulgação do IBC-Br, a Quest Investimentos subiu ligeiramente, de 0,7% para 0,8%, sua projeção para o crescimento econômico no período, conta o economista Fabio Ramos. O PIB, diz ele, pode avançar com mais rapidez quando o crédito voltar a sustentar o crescimento do varejo, o que não está acontecendo no momento.

Mais pessimista que a mediana do mercado, o economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina, Marcelo Carvalho, diz que o IBC-Br confirma seu cenário de que a economia começou 2012 em ritmo lento e, no segundo semestre, deve crescer acima de seu ritmo potencial. "Há um efeito estatístico importante: quando a economia começa patinando, o número médio é puxado para baixo. Por isso temos uma projeção [para o PIB de 2012] abaixo do consenso, de 2,5%, mas a trajetória ao longo do ano é muito interessante, de crescimento". Para o primeiro trimestre, Carvalho trabalha com avanço próximo de 0,5% para o PIB frente o último quarto de 2011.

O indicador do BC não apresentava queda desde outubro de 2011, quando caiu 0,53% ante setembro, nos números dessazonalizados, melhor critério para comparar período diferentes. Nos últimos dois meses do ano passado, no entanto, o IBC-Br apresentou alta na comparação com os meses anteriores. Esse desempenho fez com que, na série com ajustes sazonais, o nível de atividade econômica do país tenha crescido 1,11% no trimestre terminado em janeiro contra o trimestre imediatamente anterior (agosto-outubro).

O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse, nos Estados Unidos, que o crescimento da economia vai se acelerar ao longo deste ano, apoiado na retomada da produção industrial após o equilíbrio dos estoques nos últimos meses. Por outro lado, ele reafirmou em almoço na Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Miami, que a aceleração do nível de atividade não vai comprometer a convergência da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para o centro da meta, fixado em 4,5% em 2012.

Na comparação de janeiro com o mesmo mês de 2011, o IBC-Br apresentou alta de 1,44%, na série sem ajustes sazonais. Mesmo assim, o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira, acredita que os números de janeiro mostram um cenário ruim não só para o primeiro trimestre como para todo o ano de 2012. "O crescimento deste ano deve espelhar o do ano passado, em torno de 3%, talvez um pouco abaixo", afirmou.