Título: Brasil quer agilidade no crédito
Autor: Braga, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Finanças, p. C10

Brasil e Argentina querem que o Fundo Monetário Internacional (FMI) facilite a liberação de créditos de emergência, para auxiliar países que enfrentem situações de crise, sem a necessidade de cumprimento de um grande número de exigências.

A proposta será apresentada pelos governos dos dois países na próxima reunião do organismo, que acontece em setembro em Cingapura. "Esse é o melhor momento para elaborar um mecanismo como esse, justamente porque ninguém precisa dessas linhas contingentes", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ele se reuniu ontem em Buenos Aires com a ministra de Economia argentina, Felisa Miceli, para coordenar posturas comuns que serão defendidas pelos dois governos na reunião do Fundo. "Somos favoráveis à criação de uma conta de emergência que possa ser liberada sem a necessidade de apresentação de um plano", explicou.

Guido Mantega chamou a linha de crédito de "cheque especial, mas sem os juros do cheque especial". Ele ressaltou também a boa posição que têm, na sua opinião, os dois países, porque ambos quitaram suas dívidas junto ao organismo financeiro internacional e estão mostrando disciplina fiscal.

O ministro considerou que o processo usual de concessão de créditos pelo FMI é lento, com a necessidade de apresentação de uma carta de intenções e auditorias técnicas periódicas do organismo. Isso faria com que os recursos só sejam liberados tarde demais, quando as crises já se agravaram.

Mantega considerou também que Brasil e Argentina podem trabalhar juntos para manter o peso dos dois países na instituição durante o processo de redistribuição de cotas, que é uma das discussões que estarão em pauta no encontro de Cingapura. Com o ingresso de novos países no organismo, como a China, o Brasil e os outros países emergentes temem ter seu poder de influência diminuído.

"Dependendo da regra que se crie, essa regra pode nos prejudicar. Somos favoráveis (à redistribuição), desde que não signifique uma perda do nosso poder, que já é pequeno, dentro do Fundo Monetário", disse o ministro da Fazenda.

Outra questão mencionada pelo ministro é a idéia de que o FMI seja mais rigoroso em relação ao cumprimento de metas estabelecidas em seu programas. "Neste caso, eles não precisam se preocupar com os países emergentes, porque são os que estão cumprindo melhor os princípios de responsabilidade fiscal, de ajuste econômico financeiro", afirmou.

"Se o FMI precisa aumentar sua vigilância, é sobre os países avançados, porque são eles que não estão cumprindo os princípios de equilíbrio fiscal, equilíbrio das contas externas", disse, referindo-se à situação da economia americana.