Título: Otimista, Sobeet prevê superávit comercial de US$ 34,9 bi em 2005
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Brasil, p. A2

A Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) traça um quadro extremamente positivo para as contas externas em 2005, prevendo um superávit comercial de US$ 34,9 bilhões e exportações de US$ 115,9 bilhões. As projeções estão na contramão das estimativas da maior parte do mercado, que espera saldo de US$ 27 bilhões no ano que vem - abaixo dos mais de US$ 32 bilhões a serem registrados em 2004 - e vendas externas de US$ 100 bilhões. O presidente da Sobeet, Antônio Corrêa de Lacerda, diz que suas previsões são otimistas por apostar num câmbio mais depreciado do que a média dos analistas, além de contemplarem um cenário razoável para os preços das commodities. Com isso, ele se sente confortável para prever um aumento de 22% das vendas externas, de US$ 95 bilhões neste ano para US$ 115,9 bilhões em 2005. Lacerda acredita que o dólar terminará o ano que vem em R$ 3,15, acima dos R$ 3 apontados pelo consenso de analistas ouvidos pelo Banco Central (BC). Além de avaliar que o BC e o Tesouro vão comprar recursos mais agressivamente nos próximos meses, para recompor as reservas, ele espera que a taxa Selic encerre 2005 em 14% ao ano, depois de atingir um pico de 18,25% no começo do ano que vem- hoje, a taxa está em 17,75%. Lacerda aposta que o BC não será tão rigoroso na busca da meta de inflação de 5,1%, o que abriria espaço para a queda da Selic. Um dos motivos que levaram à recente apreciação do câmbio é o diferencial entre juros internos e externos, lembra ele. Lacerda avalia que o governo vai tomar medidas que levem a um câmbio mais desvalorizado, ainda que integrantes do governo, como o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, neguem essa possibilidade. Para ele, a não ser que se queira "repetir os erros do passado", é fundamental que o real fique num nível mais depreciado que o atual. "Descuidar do setor externo é colocar em risco a capacidade de crescimento do país", diz Lacerda, que prevê um câmbio médio de R$ 3,05 em 2005 - o mercado prevê taxa média de R$ 2,91. Ele ressalta ainda que a compra de dólares é importante para reforçar as reservas líquidas (excluindo os recursos do FMI), hoje na casa de US$ 23 bilhões, um nível muito baixo. Lacerda diz que seria desejável elevá-las para US$ 35 bilhões a US$ 40 bilhões até o fim de 2005. As atuações do BC no câmbio têm sido muito tímidas, avalia. Ele não vê riscos de grandes pressões inflacionárias mesmo com um câmbio mais depreciado. A questão, segundo Lacerda, é que a maior parte das empresas não incorporou à sua estrutura de custos o dólar na casa de R$ 2,70, trabalhando ainda com um câmbio na casa de R$ 3. A Sobeet espera um crescimento do PIB de 4,3%, também mais otimista que os 3,5% projetados pelo mercado. Segundo Lacerda, a diferença ocorre de sua expectativa de juros mais baixos, câmbio mais desvalorizado e menor retenção de recursos destinados a investimentos públicos. Lacerda acredita ainda que os investimentos estrangeiros diretos deverão atingir US$ 17 bilhões neste ano e US$ 18 bilhões em 2005. A projeção anterior era de US$ 15 bilhões, revisada para cima devido à perspectiva de "avanços nas regulamentações, da elevação dos investimentos em infra-estrutura e da instauração de política cambial mais orientada às exportações".