Título: Chalita resgata mote de Maluf e quer transformar SP em canteiro de obras
Autor: Agostine,Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2012, Política, p. A8

Pré-candidato do PMDB na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Gabriel Chalita resgata o mote eleitoral do ex-prefeito e deputado federal Paulo Maluf (PP) para sua campanha: fazer de São Paulo um canteiro de obras. Chalita lembra que Maluf foi o último a fazer grandes obras na cidade e diz que "nada" continuou nos anos seguintes, quando a capital foi comandada por Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB)/ Gilberto Kassab (PSD).

Na área da educação, da qual foi secretário estadual na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita pretende seguir em sentido oposto às grandes obras. Promete parcerias para acabar em dois anos com o déficit de vagas nas creches e pré-escolas. Diz que fará acordos com faculdades para que as instituições instalem creches e receba as crianças. O pemedebista defende parcerias também para tratar dependentes químicos. Propõe que as famílias recebam uma bolsa-auxílio para internar os filhos viciados em clínicas.

Chalita foi o primeiro pré-candidato a fechar alianças na capital, com o PTC e o PSC, recebendo o apoio de evangélicos. Calcula ter entre cinco e seis minutos no horário eleitoral gratuito e considera o tempo suficiente para não ter de pressionar legendas por um acordo. O pré-candidato resiste à construção de uma terceira via com PCdoB e PRB e considera que quanto mais candidaturas, melhor.

Em 2008, foi o vereador mais bem votado no país. Em 2010, obteve a terceira maior votação nacional para a Câmara. Nesta eleição é a aposta do vice-presidente, Michel Temer, para fazer o PMDB voltar a crescer em São Paulo.

A seguir, trechos da entrevista dada ao Valor:

Valor: Com quais partidos a conversa está avançada?

Gabriel Chalita: Avançada com nenhum. Estamos falando com DEM, com PT, PTB, PR, PCdoB, PRB. Teve uma conversa importante com o DEM [na semana retrasada] em Brasília. Conversei algumas vezes com o PCdoB e vou continuar conversando. Mas respeitamos quem tem candidato. Quanto mais candidatos tiver, melhor é.

Valor: É possível criar uma terceira via com PMDB, PCdoB, PRB, PDT?

Chalita: Acho que é possível. Não acredito nessa história de duas vias. Na eleição passada falavam em duas vias, mas quem ganhou não era de nenhuma dessas duas vias. Alckmin tinha 40%, Marta tinha 30% e Kassab era irrisório, 6%, 7%, 8%. Quem estava em primeiro não chegou no segundo turno. A tendência de polarização, que pode acontecer em parte da mídia, não é o que vai chegar no povo. Não sei se terceira via é um bom nome. Há forças e elas podem se juntar ou não no primeiro turno.

Valor: Essas conversas caminham para uma união?

Chalita: As conversas com o PCdoB têm sido normais. Não coloco como meta. Não é uma extrema preocupação trazer outros partidos. Paulinho [pré-candidato do PDT] disse que não abre mão. [Celso] Russomano [pré-candidato do PRB] e Netinho [ pré-candidato do PCdoB] disseram o mesmo. Eu não abro mão. A gente pode até chegar a uma conclusão no primeiro turno. Não será fácil. A tendência é que as candidaturas continuem.

"É natural o PMDB achar que, como o maior partido do Brasil e partido do vice, poderia ter espaço mais significativo"

Valor: Sem esses partidos o seu tempo de televisão será menor...

Chalita: Já tenho tempo bom. Dependendo do número de candidatos, terei de cinco a seis minutos. É significativo. As alianças ajudam; se tiver mais tempo, melhor, mas se não tiver, não é preocupante.

Valor: No plano federal a relação entre PT e PMDB está tensionada. Parlamentares do PMDB fizeram um manifesto reclamando que o PT quer hegemonia. Isso se reflete em São Paulo?

Chalita: Não. Tenho relação ótima com [Fernando] Haddad [pré-candidato do PT], com petistas de São Paulo. Minha participação na campanha da Dilma foi integral, desinteressada. Não tenho nada no governo. Não tenho a menor tendência de brigar com o PT aqui e vice-versa. Problemas na base sempre vão existir e é necessário ter maturidade.

Valor: O senhor, como dirigente próximo a Temer, avalia que o PMDB tem o espaço que deseja?

Chalita: O PMDB quer ser tratado não como alguém que está buscando cargo. A reclamação correta do PMDB é que parece que quando a gente discute ministérios é porque quer cargo. Não. São os dois partidos que ganharam a eleição e é justo que os dois partidos colaborem para governabilidade. É natural o PMDB achar que, como o maior partido do Brasil e partido do vice, poderia ter espaço mais significativo. O que não pode é permitir que interfira na governabilidade. Não ouço isso do Temer.

Valor: No programa do PMDB na TV o senhor falou de sua relação com Dilma e Alckmin. Sua candidatura está mais próxima de quem?

Chalita: Tenho uma relação de muito respeito e amizade com Alckmin. Fui secretário de Educação da gestão dele. Por outro lado faço parte da base, ajudei na eleição da Dilma e tenho uma relação ótima com ela. Vou fazer a ponte entre o governo federal e o estadual.

Valor: O senhor foi secretário de Educação de Alckmin. Como vê a política de meritocracia no atual governo Alckmin e no de Kassab?

Chalita: Sou muito favorável. Na minha época não teve nenhum protesto contra a meritocracia porque os professores votavam nos critérios que deveriam ser incluídos na valorização do professor. Acredito em uma gestão pública em que exista a meritocracia em todas as áreas da prefeitura. A iniciativa privada trabalha com esse conceito de bonificação, que não é ruim. Precisa investir no profissional para ele se sentir motivado.

Valor: E a progressão continuada? O senhor foi muito criticado por essa medida e o desempenho dos alunos caiu entre 1995 e 2005.

Chalita: Não acho que a progressão continuada seja responsável pela baixa qualidade de ensino. Não implantei a progressão continuada. Não teria implantado na rede estadual porque primeiro faria as escolas em tempo integral para depois implementá-la. Ela só funciona em escola em tempo integral. O conceito está correto. Acho que a progressão continuada tem que ser revista, aprimorada, mas não é repetindo os alunos que vai melhorar.

Valor: Qual sua política para educação?

Chalita: Eu quero resolver em dois anos o problema de falta de vaga em creches. Vou pegar todas as faculdades e propor uma parceria. Vamos aproveitar os espaços das faculdades e fazer com que elas tenham creche para zerar o déficit. Vamos pagar um valor por aluno, como fazemos hoje com as creches conveniadas. Hoje tem faculdade em todos os cantos. Não vamos deixar nenhuma criança sem ser cuidada.

Valor: A aposta será na terceirização, com convênio, em vez de construir creches?

Chalita: A gente não vai diminuir as creches diretas. Hoje já tem um número significativo de creches conveniadas e ampliar seria muito bom. No caso das escolas de educação infantil e ensino fundamental não. Aí é construção de escolas.

Valor: O senhor vai retomar as escolas em tempo integral?

Chalita: Para fazer todas as escolas em tempo integral na prefeitura eu acho que demoraria uns oito anos. Depois das creches eu pegaria as Emeis [ Escola Municipal de Ensino Infantil] e transformaria em tempo integral.

Valor: Na saúde o senhor é a favor da terceirização, com a gestão por OS?

Chalita: Sim. É um caminho interessante trazer a iniciativa privada para atuar com a área pública. Construir novos hospitais com OS, trazer pessoas com histórico de boa atuação na área e fiscalizar.

Valor: O Tribunal de Contas do Município aponta muitos problemas no controle e na fiscalização dessas OSs. Mesmo assim vai adotar o modelo?

Chalita: Tem que corrigir. Acho que OS é uma boa iniciativa, então se tem problemas é melhor corrigi-los do que acabar com as OSs.

Valor: Quais são os seus projetos para a saúde?

Chalita: Vou apresentar dois projetos: um é o conceito de saúde todo dia. Não pode ter UBS [Unidade Básica de Saúde] que não funcione no final de semana. O outro é o programa "Meu médico tem nome", de humanização. Na periferia não se sabe que médico que vai [atender], o nome dele. Não tem vínculo. Quando uma pessoa é atendida por um médico e depois volta e continua aquele médico, esse médico sabe quem é [o paciente], ele sabe do problema. Isso já é um grande caminho para minimizar o problema da saúde.

Valor: Qual será sua bandeira?

Chalita: É um conceito de cuidar da cidade. Gastar menos com a prefeitura. Tem 27 secretarias, um exagero. Vamos dar poder para as subprefeituras. Ter uma gestão diferente, inteligente. Abrir empresa tem que ser rápido. Tirar um alvará tem que ser rápido. Isso é a primeira questão. A segunda é transformar São Paulo em um canteiro de obras, a começar pelo centro. Tem que cuidar das calçadas, tirar os fios dos postes. Que grandes obras estão sendo feitas? O último que fez alguma coisa foi o Maluf. Esse tempo todo não se continuou nada. A terceira é a política social. É cuidar do morador de rua, da população que mora em favela. As áreas que puderem ser regularizadas, vamos regularizar.

Valor: O senhor concorda com a atuação da prefeitura na Cracolândia?

Chalita: Sou favorável em relação à polícia em todo lugar. Não tem por que não ter polícia na Cracolândia. Agora não tenho ingenuidade de achar que a polícia vai resolver o problema da pessoa que é dependente química.

Valor: Aprova a internação compulsória?

Chalita: Tem que tirar a criança da rua e levá-la para um local adequado. Falar que vai internar compulsoriamente, sem um processo de envolvimento dessas pessoas, é muito ruim. Não vai resolver. Tem que fazer uma triagem inicial e convencer a um processo de internação. O melhor caminho não é criar uma série de centros para viciados em álcool e drogas. Há comunidades terapêuticas para conveniar. A mãe recebe uma bolsa para conveniar e interna o filho.

Valor: Sobre transporte, a prefeitura deve colocar mais dinheiro no metrô?

Chalita: Tem como colocar. Faria um grande trabalho conjunto com o governo estadual e federal. Os três ajudando o metrô.

Valor: E o que acha do pedágio urbano?

Chalita: Sou contra. Chega de taxas.

Valor: Vai acabar com alguma taxa, como a de inspeção veicular?

Chalita: Precisa fazer um estudo para ver se de fato a cidade precisa da inspeção veicular. Estudando, se vê que de fato o que polui são os ônibus, os caminhões e os carros a diesel. Se o grosso da poluição vem daí, não precisaria ter inspeção veicular para automóveis. Tudo o que pudermos desonerar a população nós devemos fazer.

Valor: Que balanço o senhor faz da gestão Kassab?

Chalita: O conceito da Cidade Limpa é interessante. A operação delegada que permitiu os policiais militares trabalhar também na segurança do município foi outra coisa interessante, assim como o fato de ter dado continuidade ao CEU. O lado ruim foi largar a cidade. Perdeu o foco na gestão da cidade. É ruim ter outros projetos que não o de prefeito. Ele mostrou que queria montar um partido, que estava preocupado com a eleição posterior.

Valor: O PMDB tem duas secretarias na gestão Kassab. Deixará?

Chalita: Não sei. Se eu estivesse no lugar deles sairia. Não é que eu vá fazer uma campanha batendo em pessoas. Vou fazer uma campanha refletindo sobre projetos e há projetos que estão muito ruins. O PMDB tem uma proposta diferente do Kassab.

Valor: Como está a coordenação de sua campanha? Quem faz parte?

Chalita: Vamos fazer um núcleo de coordenação. O mais importante da campanha é o programa, que é coordenado pelo Delfim Netto e agora por Paulo Skaf.