Título: Com medo da abertura multilateral, indústria traça estratégias setoriais
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Brasil, p. A4

A indústria brasileira quer conquistar novos mercados para seus produtos no exterior, mas teme uma abertura multilateral. O empresariado acredita que os acordos bilaterais podem ser mais eficientes. É o caso dos setores automotivo e têxtil.

"Com os bilaterais, podemos escolher os países que serão nossos parceiros e construir um acordo adequado para as necessidades do país", defende Rogelio Golfarb, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O setor é um dos poucos em que a tarifa aplicada está no máximo consolidado pelo país na OMC: 35%. Qualquer corte de tarifas na Rodada Doha abriria o mercado local para os concorrentes coreanos e japoneses.

Por outro lado, o setor quer ampliar as exportações. Segundo a Anfavea, as montadoras brasileiras exportam hoje 30% de sua produção, mas ainda trabalham com capacidade ociosa de 30%. Ou seja, há muito espaço para aumentar os embarques.

"A negociação multilateral é a base dos bilaterais. Deixa tudo em compasso de espera. Agora é preciso partir com rapidez para os bilaterais", diz Golfarb. Ele reclama que o México tem 18 acordos automotivos, enquanto o Brasil só fechou três: Mercosul, Chile e o próprio México.

O empresário defende que o Brasil acelere as negociações com África do Sul, União Européia, Canadá e Índia. O executivo demonstra empolgação com o acordo com a África do Sul, que seria um mercado interessante para automóveis, autopeças e para a tecnologia do flex fluel.

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, a Rodada Doha, da OMC, só deve avançar se houver vantagens concretas para o Brasil. Ele defende que o país busque acordos bilaterais com os grandes blocos, como Estados Unidos, União Européia e Japão. "Muitos países se recusavam a negociar bilaterais por conta de Doha, com medo de pagar duas vezes. Agora, o Brasil tem que destravar esses contatos", afirmou.

"Temos que tentar reabrir todas as conversas possíveis", defende Osvaldo Douat, presidente da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), que é coordenada pela CNI. Ele mencionou a negociação com a UE, o aprofundamento do acordo com o México e até acordos específicos com os EUA em alguns setores. Douat espera que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que acabou de ingressar no Mercosul não atrapalhe as conversas. (RL)