Título: Negociadores lamentam perdas no mercado de carne
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Brasil, p. A4

Acordo nenhum é melhor do que acordo mínimo? Alguns negociadores faziam ontem essa indagação, lamentando a perda de dezenas de milhões de dólares pelos exportadores brasileiros com a oferta, mesmo modesta, da União Européia para a venda de carnes. Os comissários Peter Mandelson e Mariann Fischer Boel explicaram que haverá demanda de 800 mil toneladas de carne bovina na Europa que não poderá ser atendida pela produção doméstica. Dessas, oferecia 160 mil toneladas como cota para todos os países, com tarifa menor. Juntava-se à cota atual de 150 mil toneladas, das quais, segundo diplomatas, o Brasil não tem nada.

Os americanos, contudo, retrucaram que uma cota de 160 mil toneladas para todos os países representava apenas 2% do consumo doméstico europeu. Exigiram cota de 1,5 milhão de toneladas, equivalente a 10% do mercado comunitário "para ter fluxo real de comércio" e levar a um acordo. O ministro Celso Amorim perguntou aos europeus porque eles não ofereciam logo as 800 mil toneladas como cota. Eles responderam que nem pensar - mas disseram que havia espaço para ampliar a cota.

Os americanos, que estão proibidos de exportar carne bovina para a UE pela utilização de hormônios, não viram nada de interessante e explodiram a discussão.

A tarifa atual para carne bovina é de 80%. Com o corte na Rodada Doha, ficaria ainda em 61%, segundo os americanos. Dentro da cota, a tarifa atual de 20% poderia ficar entre 10% e 15%. O Brasil exporta atualmente milhares de toneladas com tarifa cheia, mostrando competitividade muito superior à dos concorrentes. "O Brasil vai perder a renda da cota, a diferença entre a receita de exportação pagando tarifa cheia e a tarifa menor da cota", diz um negociador.

Além disso, a UE acenou também em oferecer cota adicional de 250 mil toneladas para importação de frango, totalizando 650 mil toneladas com o volume atual. Um dos principais beneficiários seria o Brasil. Para a cota de manteiga, de 90 mil, haveria acréscimo de 40 mil toneladas, o que beneficiaria Argentina e mesmo o Brasil.

A comissária Fischer Boel atacou mostrando que tinha interesses também ofensivos no setor. Cobrou dos EUA cota para importação de queijos de 280 mil toneladas. E aumento de cota para importação de açúcar para 1,3 milhão de toneladas, representando cerca de 14% do atual consumo doméstico americano do produto. Os americanos ignoraram a demanda. (AM)