Título: Reforma política é ineficaz contra corrupção, dizem tucanos
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Política, p. A6

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender as mudanças no processo político-eleitoral como meio para acabar com a corrupção no país, os candidatos do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo paulista, José Serra, criticaram as propostas do presidente.

Alckmin rejeitou a idéia para acabar com os desvios de recursos e o "acúmulo de deformações", citados por Lula, com a reorganização nas estruturas partidárias. "Achar que a corrupção é problema de reforma política é tapar o sol com a peneira", analisou. "Corrupção existe pela tolerância, pelas más amizades, pela falta de controle e por governo ineficiente", atacou. Em críticas pessoais a Lula, Serra analisou a corrupção como um problema de "comportamento". "Podemos ter as melhores instituições políticas, mas elas podem não funcionar direito por causa do comportamento dos políticos".

Apesar de contestarem as declarações de Lula, os dois tucanos defenderam mudanças no sistema político-partidário e reconheceram as limitações impostas pelas regras políticas. "Só que a reforma política que todo mundo fala, na hora H ninguém faz", pontuou Serra. "É preciso determinação para isso". Alckmin, por sua vez, garantiu que, se for eleito, fará diferente: "Pretendo, em janeiro, aprovar o item da fidelidade partidária".

Em campanha de corpo-a-corpo na zona leste de São Paulo, maior colégio eleitoral do Estado, os dois tucanos centraram fogo na administração federal. "Se Deus quiser, com a aprovação de vocês, vamos substituir o mensalão pelo emprego e acabar com a história de roubalheira e dólares na cueca", discursou Alckmin. Como forma de evitar a corrupção, o ex-governador propôs a modernização das compras feitas pelo Estado. "Para mim, o novo nome da ética é a eficiência. Não existe governo ético se ele não for eficiente", disse.

Ao divulgar suas propostas, Alckmin repetiu que seus focos são a geração de emprego e renda e a redução der impostos, inclusive nos combustíveis. Com a medida, pretende baratear o custo do transporte público. O investimento em metrô e trens também foi prometido e o ex-governador disse que não construiu mais linhas de metrô porque o governo federal não liberou recursos. Mesmo com o financiamento do BNDES, que custeará quase um terço da ampliação de uma das linhas do metrô, o tucano reclamou da demora, de três anos e meio, para liberação.

Quando concorreu ao Estado, em 2002, Alckmin também dizia que a ampliação do metrô seria prioridade, mas seu governo construiu menos do que o do ex-governador Orestes Quércia - 12,3 km, contra 13,3 km. Seu antecessor, Mário Covas, construiu apenas 5,8 km. Embora tenha integrado o metrô com os ônibus, por meio do bilhete único, Alckmin extingüiu o bilhetes múltiplo dois, que dava desconto aos usuários. Assim que assumiu o lugar do tucano, Cláudio Lembo (PFL) acabou com os múltiplos dez .

Embora bem recebidos no reduto petista, os tucanos ouviram reclamações. Na campanha de rua, a vendedora Maria Aparecida de Melo Gomes, de 43 anos, pediu investimentos na saúde. "Não vejo nada na saúde. Desse jeito a gente fica desgostosa", desabafou. "Nos postos de saúde não tem remédio, não tem nada. É só fila". Em tom de campanha, Alckmin rebateu: "Saúde será nossa prioridade".

No bairro do Itaim Paulista, onde Serra teve quase 19 mil votos a menos que Marta Suplicy (PT) na disputa municipal de 2004, ele listou ações de seu governo, como recapeamento de ruas e construção de postos de saúde. Mas suas palavras não foram recebidas com muita satisfação. Depois de elogiar Alckmin, a vendedora Maria Aparecida mudou de tom ao falar de Serra. Perguntando pelo candidato, disse: "Quero dar um puxão de orelhas nele".