Título: Gol suspende licença e inicia demissões
Autor: Komatsu ,Alberto
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2012, Empresas, p. B6

Depois de implementar um programa de licença não remunerada para pilotos e comissários (aeronautas) e abrir um processo de demissão voluntária, a Gol vai reduzir de quatro para três o número de comissários a bordo. Sindicalistas do setor aéreo têm duas avaliações sobre as recentes movimentações da empresa.

O diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, diz que a Gol estaria preparando uma transferência de tripulantes para a Webjet, que, em média, paga salários até 20% inferiores do que os da Gol. A compra da Webjet pela Gol, sob análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), foi anunciada em outubro. "Aparentemente, esse parece ser um movimento para que a Webjet absorva tripulantes da Gol, pagando salários menores. A lei dá prazo de seis meses para que isso aconteça entre empresas de um mesmo grupo econômico", diz Camacho.

Graziella Baggio, da direção do sindicato, diz que a Gol contratou mais do que poderia. Em janeiro, quando a demanda por voos domésticos cresceu 7,7% na comparação anual, o fluxo de passageiros da Gol recuou 1,7% e sua oferta aumentou 6,9%.

"A Gol errou a mão na contratação. Eles superdimensionaram o quadro de trabalhadores quando tiveram problemas com a escala de tripulantes", diz Graziella. Ela se referiu a um problema com a escala de pilotos, em agosto de 2010, que acarretou em atrasos e cancelamento de voos em todo o país.

A Gol confirmou ontem planos de reduzir o número de comissários a bordo. Por meio de nota, informa que recebeu homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar com três comissários no 737-700, para cerca de 140 passageiros.

Em torno de 30% da frota combinada da Gol com a Webjet, ou 42 aviões, é composta por aeronaves desse tipo. A Gol não divulgou a data em que pretende fazer a redução de comissários. Segundo uma comissária da companhia, que pediu anonimato, a meta é fazer o corte em maio. Segundo essa fonte, adotar tripulações menores é uma das explicações para o processo de demissões que a Gol abriu na sexta-feira. Os funcionários que querem se desligar da Gol têm até o dia 29 para se manifestar.

Camacho diz que a Gol mantém, em média, seis grupos de tripulantes para cada avião de sua frota. Como a empresa tem 42 aviões 737-700, a redução de quatro para três comissários indica que o corte somaria 252 comissários. A ideia da empresa, para ele, é demitir esses funcionários e recontratá-los na Webjet.

Esse tipo de redução foi regulamentada pela Anac em meados de março de 2010. A agência informa que já aprovou redução na Webjet, para o avião 737-300, TAM (A319), e na Avianca (Fokker 100).

A Gol abriu na sexta-feira um processo de demissão voluntária, depois de não ter alcançado a adesão que gostaria em um programa de licença não remunerada para pilotos e comissários. Segundo o SNA, a companhia pretendia obter a adesão de 220 tripulantes, sendo 120 pilotos e 100 comissários.

O presidente do SNA, Gelson Fochesato, diz que os funcionários que aderiram a esse plano serão colocados em licença por um ano, sem garantia de estabilidade no retorno. O Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal (MPT) viu irregularidades no programa de licenças e avalia o processo de demissões da companhia.

A Gol não informa a quantidade de demissões que pretende alcançar nem o nível de adesão obtido com o programa de licença não remunerada. "Esse é o problema da Gol, ela não é transparente", afirma Fochesato. Desde o início do ano, a Gol acumula a demissão de 100 aeronautas. Segundo a companhia, trata-se de um "turnover natural", diante do quadro de 6 mil tripulantes.