Título: Quebra de sigilo de parlamentares divide a CPI
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Política, p. A7

As investigações da CPI das Sanguessugas aproximam-se do fim de sua primeira etapa e já começam a surgir diferenças entre os principais integrantes da comissão de inquérito. Ontem, apareceram pelo menos dois pontos de conflito entre deputados e senadores: a necessidade ou não de serem notificados todos os parlamentares citados nas investigações e a conveniência da quebra de sigilo bancário e fiscal dos políticos supostamente envolvidos no esquema de superfaturamento de ambulâncias com recursos oriundos de emendas ao Orçamento.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI, apresentou ontem um requerimento no qual pede a quebra dos sigilos dos 112 parlamentares apontados pela Procuradoria-Geral da República ou pelo empresário Luiz Antonio Vedoin, dono da empresa Planam, como possíveis envolvidos no esquema de corrupção. O pedido é assinado por ele, pelo líder da minoria na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (PFL-BA), pela senadora e candidata à Presidência da República, Heloísa Helena (P-SOL-AL), e pelo deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).

A iniciativa não agrada nem ao relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), nem ao sub-relator da CPI, Carlos Sampaio (PSDB-SP). "O que temos até agora só é suficiente para fazer um trabalho inicial sobre o envolvimento dos parlamentares", disse Lando. Ele aponta citações em conversas telefônicas, as acusações feitas por Vedoin e as emendas da Planam como outros fatores que devem ser levados em conta para se formar juízo sobre cada caso.

Sampaio fala das dificuldades de se fazer uma quebra de sigilo tão abrangente. "Seria um trabalho desnecessário. Se houver quebra, vai retardar a apresentação do relatório. Com as quebras já feitas de todos aqueles que compõe a Planam já chegamos aos parlamentares", afirmou. A CPI promete um documento parcial até a primeira quinzena de agosto. A comprovação de uma remessa de dinheiro pode ser feita com a documentação da saída do montante das contas da Planam com destino aos políticos. Sampaio diz que a CPI termina, até quarta-feira, a análise do depoimento de Antonio Vedoin à Justiça Federal, no qual cita 105 parlamentares.

Outra diferença de estratégia dos integrantes da comissão refere-se à notificação dos acusados. Na semana passada, a CPI notificou e divulgou o nome dos 57 parlamentares contra os quais o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, a CPI ainda não decidiu o que fará com os novos nomes, trazidos para o escândalo por Vedoin.

Os deputados da CPI, no entanto, convergem quando o tema é o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE), citado pelo empresário. Os parlamentares só investigarão o petista, candidato ao governo de Pernambuco, depois das eleições.