Título: Bird prevê que fatia da AL na economia global não crescerá, diz Canuto
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Internacional, p. A10

A economia mundial vai dobrar de tamanho até 2030, passando de de US$ 35 trilhões (2005) para US$ 70 trilhões. A participação relativa dos países em desenvolvimento, ou emergentes, no bolo total da riqueza vai passar de atuais 23% para 32%, mas a fatia da América Latina não vai aumentar, crescendo apenas no limite da média geral. Esses são os cálculos mais recentes do Banco Mundial (Bird), apresentados pelo economista brasileiro Otaviano Canuto, diretor-executivo da instituição, em palestra sobre "Economias emergentes e desequilíbrios na economia global", ontem na Câmara Americana de Comércio do Rio de Janeiro.

Canuto, que até o ano passado era secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, traçou um panorama da economia mundial a partir de um novo contexto, no qual os EUA irão necessariamente reduzir seu déficit externo e, conseqüentemente, seu papel de locomotiva do crescimento global. Ele disse que, embora o cenário não seja "cor-de-rosa", só uma crise de origem política, como uma eventual generalização do conflito entre Israel e a guerrilha Hezbollah no Oriente Médio, pode impor obstáculo à expansão mundial nos próximos dois anos.

Canuto afirmou que o crescimento brasileiro, em torno de 3% ao ano, está subestimado pelo modelo econométrico do Bird, necessariamente baseado em números do passado recente. Segundo ele, o país tem condições de crescer na casa dos 4% de forma duradoura, o que lhe permitiria aumentar sua fatia no conjunto da economia mundial até 2030.

Com os dados atuais, mais da metade do aumento da participação dos emergentes no bolo geral virá da China, cuja fatia total vai passar de 4,7% em 2005 para 9,9%, segundo projeção do Bird.

No cenário do banco para a evolução da economia mundial, a redução do crescimento americano, forçada pelo aumento da taxa de juros, já está sendo parcialmente compensada pelas retomadas das economias do Japão e da União Européia, ainda que a instituição não espere que esses dois pólos substituam os Estados Unidos no papel de locomotiva do crescimento internacional.

A desaceleração americana, mesmo não sendo nas proporções alarmistas que muitos chegaram a prever, vai forçar a China a buscar internamente mercado para sustentar o elevado patamar de crescimento que vem mantendo há mais de duas décadas. "O melhor cenário possível para a aterrisagem suave [da trajetória do déficit americano] seria o crescimento da Europa e do Japão e o crescimento da China menos focado no seu comércio externo", disse Canuto.

No futuro mundial pintado por Canuto, a liquidez internacional encolhida pela alta dos juros -passado o período de taxas zeradas pós-setembro de 2001- vai tornar "o quadro de avaliação de risco mais fidedigno", ou seja, os investidores serão mais seletivos.

Os preços das commodities, inflados pelos tempos de liquidez excessiva, vão cair a patamares mais baixos, embora não devam retornar a níveis dos anos 80. O preço do petróleo, salvo uma crise maior nas regiões produtoras, não deverá atingir o pico de US$ 83 (valor corrigido) alcançado em 1979.

O diretor do Bird disse também que, em relação a 2005, a população mundial vai crescer 1,9 bilhão de pessoas até 2030 e que 97% desse crescimento será nos países em desenvolvimento. Segundo ele, o movimento demográfico vai abrir uma "janela" para os países mais pobres que estarão vivendo um momento no qual a maior parte da população terá mais de 15 e menos de 60 anos, ou seja, estará em idade ativa. O cenário de Canuto inclui também o barateamento da mão-de-obra no mundo, gerado pela oferta de pessoal altamente treinado em países como a China.