Título: Atraso eleva potencial de crescimento
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2006, Especial, p. A12

A técnica de corte da cana aplicada pelos 250 trabalhadores do Vale do Jequitinhonha surpreendeu produtores de Quissamã. Os safristas mineiros, contratados pela Agroindustrial São João (Agrisa), de Cabo Frio, cortam a cana "na braçada", decepando um punhado de plantas de um só golpe.

A "braçada", usual no país, levou um produtor de Quissamã, desconhecedor da técnica, a reclamar com o gerente agrícola da Agrisa, Gilberto Giacommini, por temer que sua cana recebesse deságio na hora da compra pela usina. O produtor argumentava que o certo era cortar uma cana por vez. A Agrisa esmagará 280 mil toneladas de cana na safra 2006/07, das quais 140 mil toneladas serão compradas de Quissamã, a 135 quilômetros da usina.

O episódio é uma mostra do atraso do setor sucroalcooleiro no Rio em relação a outras regiões do país. O Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Cana-de-açúcar, patrocinado pela Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado e pelo Sebrae/RJ, com elaboração da Universidade Federal Rural do Estado do Rio, comprova os problemas.

Publicado este ano, o estudo indica que o norte fluminense tem potencial para produzir o dobro de cana do que produz. Estima-se que a atual safra fique em 4 milhões de toneladas. A produção do Estado caiu por redução da área plantada em função da descapitalização do setor nos últimos anos (infra-estrutura e capacidade financeira das usinas).

Fontes do mercado argumentam que a prática da intermediação na comercialização de cana tem sido ruim para as finanças das usinas de Campos Campos dos Goytacazes. Isto porque poucos intermediários concentram grande volume de venda de cana, aumentando o poder de fogo frente às usinas. Segundo o diagnóstico, pequenos produtores (até 300 toneladas/ano cada) representam 87% dos fornecedores de cana no Rio, mas respondem por 20% da produção da matéria-prima.

A produtividade média de cana, no Rio, é de 58 toneladas por hectare, considerando usinas e produtores. Mas ao analisar os produtores de forma isolada, a média cai para 52. Na década de 1970, eram 23 usinas no Estado. Hoje são oito. "É fundamental aumentar a produção e a produtividade de cana com assistência técnica", diz Ivan Morgado, da Universidade Federal Rural, que participou da equipe que elaborou o diagnóstico e também pede aporte na manutenção dos canais de irrigação e drenagem em Campos. (FG)