Título: Juros altos e as garantias dificultam acesso ao crédito
Autor: Wilner, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2006, Suplementos, p. F3

A expansão do crédito às micro e pequenas empresas - que chegou a 28,6% no ano passado - tem proporcionado algum fôlego para os varejistas. A carteira dos bancos destinada aos empreendedores concentra-se cada vez mais no comércio, principalmente no caso das instituições públicas. No Banco do Brasil, a participação do setor cresceu, no último ano, de 54,56% para 57,9%, atingindo R$ 7,2 bilhões. Na Caixa Econômica Federal, o varejo representa 63% do volume financiado.

Na CEF, as perspectivas para expansão do crédito aos varejistas são otimistas. O banco se prepara para o lançamento de dois novos produtos para atender à crescente necessidade de financiamento desse segmento do mercado, a Conta Garantida Caixa e o CDC-I Caixa. Como em outras instituições, há maior demanda por linhas para capital de giro no curto prazo, como é o caso da conta garantida, a antecipação de recebíveis e o crédito rotativo.

No Bradesco, a estimativa é de um crescimento entre 20% e 30% na oferta de crédito global para este ano, incluindo as micro e pequenas empresas, afirma Alexandre Grüher, diretora da área de empréstimos e financiamentos. O setor de varejo, no entanto, tem peso relativamente baixo em relação a outros bancos, representando 15% do total da carteira destinada a micro e pequenas empresas. Para a operação ser bem-sucedida, diz Grüher, é a empresa oferecer garantias e manter o cadastro atualizado. "As informações dos demonstrativos econômicos-financeiros, balanços e balancetes são fundamentais para a análise dos pedidos de crédito", diz Grüher. "Fatores gerenciais, trabalhistas e comerciais também são analisados na decisão final e servem para detectar oportunidades de negócio."

Na concorrência com os gigantes do setor, os pequenos ficam em desvantagem. Redes como Casas Bahia, Pão de Açúcar, Ponto Frio, Lojas Americanas e Magazine Luiza estabeleceram parcerias com bancos para financiar o consumidor - e assim aliviar as suas necessidades de capital de giro e liberar capital para custear a abertura de novas unidades. Somente a Casas Bahia fechou acordo de R$ 5 bilhões com o Bradesco - quase 70% do que tudo que o BB empresta para pequenos varejistas.

"As grandes empresas têm recursos próprios ou condições melhores de se financiar", avalia Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). "Enquanto isso, as pequenas sofrem com a burocracia e a exigência de garantias para a liberação dos recursos".

Como as pequenas têm mais dificuldades, acabam por repassar o crédito ao consumidor a um custo mais alto. Segundo pesquisa da Anefac, o cliente de redes menores arca com uma taxa de juros média de 6,97% ao mês, enquanto nas grandes redes é de 4,56%. A explicação para a sobrevivência dos nanicos é que 95% dos consumidores não têm consciência do juro embutido.

Para os pequenos varejistas, é difícil oferecer um parcelamento além dos "três chequinhos". Os bancos não costumam fazer operações sem garantia. Geralmente trabalham com recebíveis, - e não aceitam descontar cheques com prazo a perder de vista. "Há empresas que procuram vender em dez vezes, mas nem sempre conseguem antecipar o recurso em dez vezes", afirma Valmir Fernandes, superintendente de produtos do BankBoston. Diante do alto risco de enfrentar problemas de caixa, só há uma saída, diz: "elas deveriam mudar o seu business para antecipar a receita no prazo em que necessitam". Em português claro, ao invés de parcelar em dez vezes, a recomendação é: vendam em, no máximo, quatro vezes.

Ainda que restritas, as linhas que têm como lastro os recebíveis são as mais utilizadas pelo varejo. A razão, segundo os bancos, está nas dificuldades do pequeno comércio em oferecer as informações contábeis exigidas. "O banco precisa entender como o comerciante vai gerar valor para pagar as suas dívidas", defende Fernandes.

"Nos recebíveis, as taxas são mais baratas e competitivas", diz Kedson Macedo, gerente-executivo da diretoria de micro e pequenas empresas do BB. Os bancos vêm disputando esse tipo de contrato e os juros, segundo Fernandes, que podem chegar a um quarto da taxa cobrada em outras operações - dependendo do tipo de garantia. Quando não entram como garantia os recebíveis, as taxas muitas vezes são compatíveis àquelas para pessoa física, pois, nos pequenos negócios, pesa a experiência e os bens do empreendedor.

"É muito mais fácil conseguir crédito como pessoa física, pois o empreendedor tem mais tradição em sua conta pessoal do que na jurídica", diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. Segundo pesquisa do Sebrae, ao tentar obter empréstimo na pessoa física, 89% dos pequenos empresários foram bem-sucedidos. Quase 80% não recorreram ao crédito bancário como pessoa jurídica em 2004, ano do levantamento. E 61% das empresas pesquisadas jamais procuraram os bancos para financiamento. Preferem negociar prazos e taxas com fornecedores - alternativa escolhida por 66% das empresas pesquisadas pelo Sebrae - ou buscam o financiamento como pessoa física.