Título: Emissor fiscal vai estimular a automação
Autor: Saraiva, Jacilio
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2006, Suplementos, p. F4
A obrigatoriedade do uso do Emissor de Cupom Fiscal-ECF nos estabelecimentos comerciais, a partir de 1994, não levou o segmento de pequenos e micro comerciantes a fazer grandes investimentos em tecnologia, mas pode ser o pontapé inicial de uma pequena revolução no setor, ainda resistente a colocar a mão no bolso quando o assunto é informática.
"O que trava a informatização no pequeno varejo são fatores como o custo dos equipamentos e a falta de conhecimento dos proprietários sobre as aplicações, além do pequeno porte dos empreendimentos", afirma Marcel Solimeo, superintendente de economia da Associação Comercial de São Paulo.
O ECF é um equipamento de automação comercial capaz de emitir documentos fiscais e controlar valores referentes à circulação de mercadorias ou prestações de serviços. Pode ser encontrado em três formas: uma máquina registradora, dotada de teclado e visor; uma impressora fiscal, que funciona acoplada a um computador ou um terminal de ponto-de-venda, comuns nos supermercados.
Segundo empresários do pequeno varejo, o ECF veio mesmo para evitar dores de cabeça com o fisco, mas conseguiu ainda puxar pequenos investimentos em tecnologia. Cada Estado brasileiro possui uma regra própria, mas a maioria impõe o uso do ECF em estabelecimentos com faturamento igual ou maior que R$ 140 mil por ano.
O Amsterdam Bistrot, restaurante do bairro dos Jardins, em São Paulo, que recebe até 120 clientes em dias de pico, investiu R$ 3,5 mil para usar o emissor. "A aquisição foi para ganhar produtividade na hora de fechar a conta e trabalhar com tranqüilidade, dentro da lei", diz o sócio João Augusto de Campos.
Com um faturamento acima de R$ 200 mil por ano, o restaurante precisa apenas de um notebook para realizar pagamentos on-line, mas pretende investir em mais recursos no futuro. A lista de compras inclui um computador de mesa e um sistema de controle de estoque. A idéia é se antecipar à falta de mantimentos e nunca deixar a adega sem os vinhos preferidos da clientela.
Apesar da obrigatoriedade do emissor, o nível de informatização do micro e pequeno comércio é relativamente baixo, principalmente entre os negócios de menor porte e com menos tempo de mercado. "A informatização vai crescer à medida que os preços dos equipamentos caírem e o seu uso se popularizar", destaca Solimeo. Segundo o economista, o pequeno varejo usa a informática principalmente para cumprir exigências burocráticas e fazer cadastro de clientes e fornecedores.
Para Jorge Luiz Pereira, consultor de tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas-Sebrae de São Paulo, o emissor pode ajudar o comércio a ganhar agilidade no atendimento, controlar o estoque e as vendas, e ainda reduzir erros nos preços das mercadorias. "Hoje, apenas quem é obrigado por lei usa o ECF, que poderia ser melhor difundido se as companhias conhecessem suas vantagens para a gestão do negócio", afirma.
Na franquia da marca de roupas Overend, em Fortaleza (CE), o emissor foi bem-vindo no balcão. "O cupom fiscal chega mais rápido na mão do cliente e a máquina ainda fornece um relatório do movimento diário, registrando pagamentos feitos com cheque, dinheiro e cartão", diz o sócio-gerente Ricardo Machado.
A loja, com um faturamento anual de R$ 350 mil, usa o ECF desde que abriu as portas, em 1999. Com a chegada da máquina, adquiriu um novo sistema de contas a pagar, para se adequar ao emissor. "Investimos mais de R$ 3 mil no ECF e o próximo passo é comprar um computador mais potente, dotado de um programa que faça baixas no estoque à medida que o consumidor receba a nota fiscal".
É por conta de lojistas como Machado que os fabricantes de emissores fiscais comemoram o aumento de entregas. "Sempre que um governo estadual intensifica a fiscalização ou modifica as regras de obrigatoriedade de uso, as vendas do equipamento aumentam", ressalta Ana Cláudia Cardoso, gerente de marketing da Bematech, que fabrica o dispositivo desde 1996 e quer vender 160 mil unidades até o final deste ano.
Para Ana Cláudia, os lojistas têm descoberto que o ECF não serve apenas para o controle de impostos, mas ajuda no gerenciamento do estabelecimento. O modelo mais recente da marca é o MP-2100 TH FI, que pretende facilitar a vida do comerciante, com um sistema mais simples de recarregamento de papel. O equipamento custa R$ 2,7 mil.
Em 2007, a fabricante deve lançar um emissor baseado em tecnologia térmica, de olho no mercado de pequenos e médios estabelecimentos. O equipamento promete menos barulho durante a impressão e dispensa cartuchos de tinta.
Enquanto isso, novas tecnologias devem trazer recibos de compra ainda mais modernos no futuro. Uma pesquisa com 224 empresas de grande, médio e pequeno portes concluiu que 80% delas se interessam em implantar um sistema eletrônico de emissão de notas fiscais. O estudo foi realizado este ano pelo Conselho Privado da Nota Fiscal Eletrônica do Brasil (Confeb), que é ligado à Associação Brasileira de E-business.
Um dos benefícios esperados com a adoção da nova nota, um documento emitido e armazenado de forma eletrônica, é a redução de custos com papel e impressão. Desde abril, secretarias da Fazenda de alguns estados, em parceria com 19 empresas, testam a novidade.