Título: Taxa de investimento é melhor desde 1991
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Brasil, p. A3

A retomada da construção civil e a compra de máquinas e equipamentos alavancaram a taxa de investimento no país para 21% do Produto Interno Bruto (PIB) no período de julho a setembro de 2004. É o melhor resultado para um terceiro trimestre desde o início da série histórica do PIB em 1991, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O instituto também divulgou o PIB, medido a preços de mercado, do terceiro trimestre de 2004, que atingiu R$ 457,7 bilhões. No acumulado de janeiro a setembro, o PIB atingiu R$ 1,28 trilhão. Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), somaram R$ 96,1 bilhões no terceiro trimestre, frente a R$ 70,76 bilhões no mesmo período do ano passado, quando a taxa de investimento correspondeu a 17,8% do PIB. O IBGE mostrou ainda que a taxa de poupança bruta atingiu 25,3% do PIB, recorde para terceiros trimestres desde 1994. A economista Rebeca Palis, da coordenação de contas nacionais do IBGE, disse que a retomada da construção civil e os investimentos em máquinas e equipamentos contribuíram positivamente para elevar a taxa de investimento medida pela FBCF. Ela lembrou que no terceiro trimestre de 2003 a taxa de investimento atingiu o seu nível mais baixo desde 1991. "Em algum momento era preciso começar a investir para permitir o crescimento da economia", avaliou Rebeca.

O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, avalia que o resultado é positivo, por indicar que está em curso um aumento da capacidade produtiva do país. Ele ressalta, porém, que os preços para se investir na construção civil em máquinas e equipamentos estão aumentando mais do que os da média da economia. Isso também ajuda a explicar a elevação da taxa de investimento para 21% do PIB. Segundo Bassoli, no terceiro trimestre deste ano o crescimento médio dos preços foi de 8,7% em relação ao mesmo período de 2003, enquanto o custo do investimentos subiu 13,1%. Esse encarecimento significa que hoje é necessário gastar mais recursos para adicionar a mesma capacidade produtiva na economia do que há alguns anos. Para Bassoli, a taxa de investimento deve ficar próxima de 20% do PIB na média do ano. Os dados do IBGE indicam que no acumulado de nove meses de 2004, a taxa de investimento foi de 19,7% , acima do mesmo período de 2003, de 17,7%. O melhor resultado na série do IBGE, para a FBCF medida em nove meses, desde 1991, ocorreu em 1995, quando a taxa ficou em 21,4%. No caso da poupança, o melhor resultado do período ocorreu em 2004, quando a taxa situou-se em 24,5%. "A poupança não é uma restrição ao crescimento da economia, problema que está mais centrado na taxa de investimento", afirmou Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Almeida avaliou como positivo o fato de o investimento ter atingido 21% do PIB e previu que deverá fechar o ano em 20%. "O número de novembro é importante para pensar na superação da taxa de 2004 no ano que vem e, em uma segunda etapa, chegar a 25% do produto." Ele considera que, se o governo elegesse 2005 como "o ano do investimento" o Brasil poderia chegar mais rapidamente a essa taxa de 25%, considerada necessária para que o país cresça de forma sustentável a 5% ao ano. Estévão Kopschitz, economista do grupo de acompanhamento conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), salientou que para 2005 a entidade trabalha com uma taxa de investimento de 21,3% do PIB. Kopschitz lembrou que entre 1991 e o terceiro trimestre de 2004 a taxa de investimento situou-se, em média, em 19,3% e o crescimento anual ficou abaixo de 3%. De 1995 a 2004, o PIB cresceu, em média, 2,4% ao ano. "Os números demonstram que para crescer mais a taxa de investimento precisa ser maior". O instituto mostrou que a capacidade de financiamento da economia, ou seja o saldo entre captações e pagamentos externos, ficou em R$ 15,6 bilhões no terceiro trimestre de 2004, com aumento de R$ 6 bilhões sobre igual período de 2003. De janeiro a setembro, a capacidade de financiamento do país atingiu R$ 30,3 bilhões. Foi o segundo ano, desde 1994, que o país teve saldo positivo nesta conta em periodos acumulados de nove meses.