Título: Comércio eletrônico cresce e dispensa o amadorismo
Autor: Terzian, Françoise
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2006, Suplementos, p. F5

O comércio eletrônico brasileiro deve crescer 56% este ano em relação a 2005 e movimentar R$ 3,9 bilhões, segundo a pesquisa Web Shoppers, realizada pela empresa de marketing on-line e-bit. Hoje, há cerca de cinco milhões de e-consumidores no país. Eles gastam, em média, R$ 272,00 por ano e têm potencial para desembolsar muito mais. Cerca de 80% de todo e-commerce de bens de consumo concentram-se nas mãos de 30 grandes varejistas on-line.

Embora os maiores dominem, ano após ano, os pequenos devem abocanhar uma fatia cada vez maior desse bolo, acredita Cid Torquato, diretor-executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. "A tendência natural é que as pequenas ganhem espaço com a oferta de produtos ou serviços regionais e diferenciados", analisa Torquato. Hoje, os itens mais vendidos pelas grandes são CDs, DVDs e livros. Entretanto, muitos compradores virtuais estão mais maduros e começam a buscar produtos e serviços mais especializados.

Diante deste cenário, é chegada a hora das micro e pequenas empresas repensarem suas estratégias e passarem a considerar o comércio eletrônico como um meio de crescer e ganhar dinheiro. Se bem explorado, ele pode ser um grande negócio, principalmente em tempos de consumidores cada vez mais ocupados. Ao contrário do mundo real, a loja virtual fica aberta 24 horas por dia, sem exigir o pagamento de um ponto físico e nem hora extra aos funcionários.

Há algum tempo seria difícil imaginar alguém ganhando dinheiro com a venda de tênis pela internet. Márcio Kumruian, diretor da NetShoes, loja de tênis e artigos esportivos, nunca duvidou do potencial da internet. No ar desde 2001, sua loja virtual representa 70% de toda receita gerada pelas suas cinco lojas (quatro físicas e uma on-line). Embora não revele o faturamento, Kauruian conta que as vendas on-line têm dobrado ano após ano. Para 2006, a expectativa é crescer 86%. Os tênis da Nike, Adidas, Mizuno, entre outros, hoje atendem clientes de todo país. Para pagar o fornecedor da tecnologia do seu e-commerce, a NetShoes gasta uma média de R$ 3 mil por mês. Além disso, tem oito funcionários dedicados à manutenção e logística do site.

Com a explosão no número de internautas e o foco dos fornecedores de TI no SMB (Small and Midsize Business), há uma série de empresas desenvolvendo produtos sob medida para as micro e pequenas entrarem de vez no e-commerce. Este é o caso do datacenter .comDominio, que lançou recentemente a solução bigShop, voltada à montagem, manutenção e hospedagem de lojas virtuais. Segundo Ricardo Giudice, diretor de marketing da .comDominio, ela permite controlar e gerenciar o estoque, definir o lay-out, inserir publicidade, gerar relatórios, entre outros benefícios. Para tanto, a solução é oferecida em três modalidades. A mais simples, que permite ter até 50 itens cadastrados, custa R$ 95,00 por mês, além da taxa de instalação de R$ 500,00.

Apesar das muitas oportunidades, o micro ou pequeno empreendedor deve estar atento aos riscos de entrar para o comércio virtual sem um bom planejamento. Antes de começar, Jorge Luiz da Rocha Pereira, consultor do Sebrae-SP especializado em Tecnologia da Informação (TI), diz que a montagem de um ambiente de e-commerce deve ser gradual. Embora a tecnologia permita criar uma loja virtual em poucos dias, do ponto de vista do negócio isso não é interessante, já que é preciso aprender com os erros, sentir o funcionamento do comércio on-line e os hábitos do consumidor virtual.

O primeiro passo para se chegar a um e-commerce bem-sucedido é investir em uma infra-estrutura mínima de TI, o que não significa simplesmente comprar um computador. Pereira explica que é necessário ter alguns softwares para controle e gerenciamento de estoque, de pedidos, de pagamentos, entre outros processos. O segundo passo é montar seu site empresarial, voltado à divulgação da empresa e de seus produtos e serviços. "Esta é uma forma de apresentar seu negócio ao consumidor", diz.

O caminho seguinte é se comunicar com os clientes por e-mails personalizados, para criar um relacionamento. Feito isso, dá para começar a realizar vendas de alguns produtos da loja, a partir da emissão de boleto. Mas atenção: só entregue o pedido depois que o dinheiro entrar na conta. "Tem gente que deposita o envelope vazio no caixa eletrônico, manda o recibo, recebe o produto e nunca paga", alerta Pereira.

Somente depois de se deparar com todos os desafios do e-commerce, formar uma base mínima de clientes e compreender o funcionamento dos processos de comunicação com comprador e fornecedor, logística, tecnologia e forma de pagamento é que o pequeno empreendedor deve ingressar para valer no comércio eletrônico. A partir daí, vários processos passam a funcionar de forma automatizada e em maior escala. "Trabalhar de forma gradual ajuda a chegar ao e-commerce com cadastro de clientes pronto, todo controle de caixa e de fluxo integrados e um aprendizado impagável".