Título: Copom deve desacelerar o corte no juro básico em agosto, sinaliza ata
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Finanças, p. C2

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, sinaliza um ritmo ainda menor de corte nos juros básicos, com um movimento de 0,25 ponto percentual em agosto em vez do 0,5 ponto decidido nos dois mais recentes encontros. Mas parte dos analistas econômicos ainda considera possível que a autoridade monetária não desacelere a redução da taxa Selic.

A mensagem mais importante, e mais discutida no mercado financeiro, está no parágrafo 20 da ata, num trecho que diz que "a preservação das importantes conquistas no combate à inflação (...) poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia".

Nas suas análises, os economistas do mercado financeiro se prendiam aos detalhes dessa frase. Os mais otimistas davam ênfase à palavra "poderá" para argumentar que a decisão do Copom é algo ainda em aberto e que, portanto, não se poderia descartar um corte de 0,5 ponto em agosto. Os mais pessimistas destacavam que a ata se refere à possibilidade de "maior parcimônia", enquanto no documento da reunião de maio constava apenas "parcimônia".

Os observadores mais empenhados em desvendar a linguagem do Copom notaram que, na reunião de abril, foi inserida uma frase idêntica à que saiu no documento divulgado ontem. E que, de fato, no mês seguinte o Copom desacelerou o corte de juros, reduzindo apenas 0,5 ponto em maio, em vez do 0,75 ponto decidido no encontro de abril. "O Copom é meticuloso na elaboração das atas", afirma o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles. "Ele não coloca nenhuma palavra de graça."

Com visão semelhante, o economista-chefe da SulAmérica Investimento, Newton Rosa, lembra que há vários meses o BC vem alertando que há incertezas sobre como os cortes decididos até agora nos juros básicos - que passaram de 19,75% para 14,75% entre setembro de 2005 e julho corrente - vão afetar a atividade econômica e os preços. "O Copom está entrando cada vez mais em um terreno desconhecido, e por isso sinaliza cautela."

Os analistas econômicos mais otimistas não ignoram o fato de que, com a ata, o Copom sinalizou que está mais inclinado a cortar apenas 0,25 ponto. Essa seria uma fotografia de um momento. Eles argumentam que o Copom deixou uma porta aberta para que, caso se confirme um quadro positivo, cortar 0,5 ponto. "São seis semanas entre uma reunião e outra", disse o economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale. "É provável que os dados que serão divulgados, que devem ser positivos, convençam o Copom a fazer um corte maior nos juros."

Um ponto relativamente obscuro na ata, na visão de alguns economistas, foi a elevação das projeções de inflação do BC para 2007, no chamado cenário de referência. O BC não abre os números - sabe-se apenas que a projeção subiu em relação aos 4,2% previstos no relatório de inflação de junho passado, mas está abaixo da meta, de 4,5%.

O próximo ano é considerado chave para as próximas decisões de política monetária, já que os movimentos na taxa de juros costumam ter efeitos plenos na inflação em 9 ou 12 meses adiante. A ata não diz por que a projeção piorou. Analistas argumentam que deveria ocorrer justamente o contrário, já que o câmbio se apreciou e a inflação de 2006 está se saindo muito mais favorável do que o antecipado - em tese, pelo menos parte desse cenário favorável tende a se transferir para o próximo ano.

Excetuando a frase que trata da maior parcimônia na política monetária, a ata praticamente repete a do mês anterior. O Copom descreve um cenário bastante benigno para a inflação de curto prazo, com o IPCA de junho chegando a 0,21% negativo e uma projeção oficial para 2006 ainda menor do que os 3,8% anteriormente estimados, o que coloca a variação de preços confortavelmente abaixo da meta, fixada em 4,5%. Os principais riscos continuam a ser, na visão do Copom, a evolução dos preços do petróleo, a alta dos juros em países desenvolvidos e, principalmente, as incertezas sobre como as quedas de juros decididas até agora vão afetar a atividade e a inflação de 2007.