Título: BNDES reduz taxa de juro para montadoras
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Brasil, p. A3

O governo decidiu ontem, em reunião no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ampliar o financiamento, via BNDES, das exportações das empresas automotivas e reduzir a taxa de juros cobrada nestes empréstimos. Esta segunda vantagem, contudo, está atrelada a um componente social: apenas terão direito ao juro menor as empresas que mantiverem ou aumentarem o nível de emprego em comparação ao ano anterior. Nesse caso, o spread cobrado vai cair de 4,5% para 3,8% (esse percentual incide exclusivamente sobre a parcela de 80% do crédito corrigido pela TJLP, mas não sobre os 20% restantes indexados a uma cesta de moedas). Sobre o empréstimo ainda incide a TJLP ou a variação desta cesta de moedas.

A linha para financiar as exportações das montadoras existe desde novembro do ano passado, mas valor do financiamento sobe de 30% para 55% das exportações de veículos projetadas pela empresa. No ano passado, ela movimentou um total de US$ 853 milhões, sendo que a Volkswagen teve acesso a maior parcela de recursos (US$ 303 milhões), seguida de Ford (US$ 250 milhões), GM (US$ 200 milhões) e Fiat (US$ 100 milhões). " Com as novas regras, acredito que seja possível financiar US$ 1,5 bilhão " , acredita o presidente do BNDES, Demian Fiocca.

A exportação deverá ser realizada no período de doze meses e a amortização do financiamento será feita em parcela única no 15º mês ou em três parcelas, no 13º, 14º e 15º mês a contar do início do prazo de compromisso de exportação. O presidente da Anfavea, Rogélio Golfarb, afirmou que a medida é fundamental para permitir que o setor recupere a competitividade internacional. " Aproximadamente 33% de nossa produção é destinada à exportação, o que representa uma venda de 980 mil unidades. Vínhamos tendo perdas, nos últimos seis meses, de cerca de 3,4% nas unidades vendidas " , afirmou Goldfarb.

De acordo com FIocca, a decisão do BNDES foi fruto de uma série de conversas nas últimas semanas e foi sacramentada ontem no Planalto, com a presença do presidente Lula, do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e representantes do setor automotivo e das centrais sindicais.

Os sindicalistas comemoraram o atrelamento da linha de financiamento à garantia da manutenção de empregos, embora reconheçam que a medida anunciada ontem pelo BNDES não dê a certeza de uma solução para a crise da Volkswagen. " Esperamos que haja uma solução para a Volks, mas a empresa vem passando por uma reestruturação coordenada pela matriz. O anúncio de hoje (ontem) não tem diretamente relação com a Volks, mas esperamos que influa indiretamente " , declarou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique.

O presidente interino da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, lembrou que o próprio aumento do financiamento, incrementando as exportações, vai gerar mais empregos. " Esses recursos poderão ser utilizados em produção de novas tecnologias. Assim, mesmo que os avanços tecnológicos sejam obtidos, os empregos estão mantidos " , comemorou Juruna. Para Goldfarb, as medidas, somadas ao pacote cambial, poderão diminuir as perdas do setor automotivo. (Com FolhaNews)