Título: Presidente garante superávit primário em novo mandato
Autor: Costa, Raymundo e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Política, p. A4

Em entrevista à rádio CBN, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que não haverá mudanças na política econômica caso venha a ser reeleito. Apesar da pressão dos partidos aliados, Lula assegurou a manutenção da atual meta de superávit primário - 4,25% do PIB -, "para que a gente possa apontar para os credores e para as pessoas que têm dinheiro aplicado que vamos arcar com as nossas responsabilidades", afirmou. Segundo Lula, as bases macroeconômicas estão dadas para que o Brasil possa crescer mais, de forma sustentável e gerando mais empregos.

Lula não respondeu objetivamente quando indagado sobre a necessidade de uma nova reforma da Previdência. Defendeu que essa discussão precisa ser constante e completou que "a cada 15, 20 anos, os governantes do mundo inteiro terão que pensar em um novo modelo". Mas afirmou que, no Brasil, o déficit previdenciário "foi programado quando a Constituição de 1988 incluiu seis milhões de trabalhadores rurais e, posteriormente, os governos criaram a Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) e o Estatuto do Idoso". O presidente disse, ainda, que o Executivo precisa encontrar um mecanismo para "não jogar mais sacrifício nas costas dos trabalhadores e tentar encontrar uma solução para compatibilizar os benefícios criados com a forma de arrecadação " .

Sobre a necessidade de uma nova reforma tributária, Lula responsabilizou seus adversários e os governadores pela paralisação do proposta no Congresso. Lembrou que a parte que interessava ao governo federal foi aprovada em 2003, mas o restante do projeto não avançou porque a oposição e os governadores têm interesse na permanência da guerra fiscal. "O problema da reforma tributária é que cada brasileiro, cada governador, tem a sua proposta. O projeto está pronto, o relator (deputado Virgílio Guimarães, do PT de Minas) está com o relatório pronto. A hora que os deputados e senadores quiserem votar, está lá " , disse.

Lula também não considerou grave o fato da dívida pública voltar ao patamar de R$ 1 trilhão. Lembrou que a dívida americana é maior do que o Produto Interno Bruto e que a Itália tem um déficit que representa 100% do PIB. Destacou que a relação dívida/PIB brasileira caiu de 58% para 50%, além de ter mudado seu perfil. "Nós tínhamos quase que 40% da nossa dívida dolarizada. Hoje não temos praticamente nada em dólar".

Segundo o presidente, a situação econômica traz segurança para o país enfrentar crises externas. Em tom de brincadeira, disse que, no passado, quando os EUA espirravam, o Brasil pegava pneumonia. "Hoje, eles espirram e nós falamos: saúde!". Para Lula, além da da responsabilidade fiscal, a marca de um segundo mandato será uma forte política de inclusão social, que realce ainda mais os números recentemente divulgados - três milhões de pessoas deixando a linha da pobreza e sete milhões deixando as classes D e E e migrando para a classe C -, além de um maciço investimento em educação.

Na área energética, o presidente descartou a possibilidade de apagão, repetiu o discurso ufanista sobre o biodiesel.