Título: Apoio de Itamar reforça estratégia do PSDB para reverter diferença em Minas
Autor: Moreira, Ivana e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Política, p. A5

É difícil afirmar qual o poder de puxar votos do ex-presidente Itamar Franco (sem partido). Mas, a julgar pela expectativa tucana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um tiro no próprio pé ao se afastar do seu ex-embaixador em Roma. Os coordenadores da campanha de Geraldo Alckmin estão convencidos de que o apoio do mineiro, oficializado ontem, poderá reduzir a vantagem do presidente petista no Estado, que é o segundo maior colégio eleitoral.

No jogo de xadrez da campanha, uma redução dos votos de Lula em Minas pode contribuir para levar a disputa ao segundo turno. Pela última pesquisa Datafolha, Lula tem 45% das intenções de voto dos mineiros. Alckmin, 26%. "Ele deu um tiro foi nas duas pernas", afirmou ontem o deputado federal Marcello Siqueira (PMDB), um dos principais aliados de Itamar. "Isto vai ter um preço, em votos".

A intenção de Itamar era apoiar a reeleição do tucano Aécio Neves no Estado e do petista Lula na Presidência, repetindo o que fez na campanha de 2002. Mas o próprio Lula empurrou o ex-presidente para o lado do tucano, depois de apoiar Newton Cardoso (PMDB) para a vaga ao Senado numa coligação com o PT.

Newton, maior desafeto político de Itamar, foi recebido por Lula na véspera da convenção. O ex-presidente, que era líder nas pesquisas de intenção de voto para o Senado, foi derrotado na convenção do PMDB e acabou deixando a legenda. "Lula escolheu seu caminho e suas companhias", disse Itamar ontem, após anunciar seu apoio a Alckmin. "Nós escolhemos outro caminho, uma companhia ética".

O ex-presidente negou que sua escolha tenha sido feita por vingança, mas deixou claro que a aproximação de Lula e Newton Cardoso definiu seu afastamento da campanha petista. Lula, disse ele, sabe bem qual foi a "gota d´água". Falando por metáforas, disse que o presidente não quis namorar e ele teve de procurar outra namorada. Antes da minha definição, o presidente fez a sua".

Até a véspera, os petistas tinham esperança de que Itamar concordasse, ao menos, em ficar neutro na disputa. Coordenador da campanha petista em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, telefonou para Itamar, tentou marcar um encontro, mas a decisão do ex-presidente já estava tomada. Pimentel é um dos que assumiram publicamente o constrangimento da aliança com Newton Cardoso. Além de desafeto de Itamar, o ex-governador era, até agora, um dos inimigos históricos do PT em Minas.

Para frustração dos petistas, mais do que dar o apoio a Alckmin, Itamar resolveu participar de fato da campanha. O maior simbolismo da decisão foi a escolha de outros dos seus principais aliados, o ex-ministro Henrique Hargreaves, para a coordenação geral da campanha em Minas. Ele deverá também colaborar com o programa de governo na áreas de saneamento, energia e Forças Armadas.

Tudo foi acertado em conversa de pouco mais de 40 minutos, no apartamento de Itamar em Belo Horizonte. O ex-presidente deixou claro que atende principalmente a um pedido do governador Aécio Neves, em nome de um projeto futuro que é levar o governador à Presidência em 2010.

No encontro, Alckmin apenas ouviu, educadamente. Itamar mostrou sua posição, mas não exigiu que o candidato se comprometesse com o fim da reeleição. Na saída, quando questionado sobre o assunto pelos jornalistas, Alckmin apenas respondeu: "Cada coisa vem a seu tempo, nós estamos na eleição de 2006".

Publicamente, agradeceu a Aécio pelo empenho em atrair Itamar para a campanha. Lembrou que a disputa será marcada pela discussão da ética e que ter o ex-presidente - que fez um "governo impecável" - a seu lado será muito importante. "Diga com quem andas e te direi quem és", declarou.

Em entrevista aos jornalistas, Itamar não economizou críticas ao presidente Lula. Disse que o petista foi um militante no passado, mas hoje é um homem arrogante. "Ele é que prejudica o PT", afirmou. "Perdeu a autocrítica". Segundo o mineiro, o governo petista virou, de uns tempos para cá, um feixe de palhas. "Qualquer vento leva".

Itamar afirmou que, há muito tempo, vinha percebendo algumas complicações no governo. "Desde quando eu saí da embaixada (da Itália)", declarou. "Tanto é que o presidente quis me enviar para Washington e eu não quis".

O governador Aécio Neves disse ontem que um dos objetivos de ter Itamar no palanque de Alckmin é conseguir reduzir a diferença a favor de Lula no Estado. "Acho que ajuda no Brasil também", completou o governador.

"A adesão de Itamar significa um apoio considerável para Alckmin em Minas. É um ex-presidente e um ex-governador com força política, que poderia estar do outro lado (apoiando Lula)", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

Para o candidato a vice na chapa de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), o apoio contribuirá para desconstruir o governo petista. "Será importante a comparação entre a gestão dele na Presidência, quando qualquer assessor envolvido em denúncia era punido, e o governo Lula, que passa a mão na cabeça de todo mundo que erra".

"O apoio de Itamar a Alckmin reforça a tese de que o PT não tem gratidão a ninguém", disse o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), coordenador pefelista da campanha. Para o coordenador tucano, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), a presença do ex-presidente reforçará a campanha nacional. "Itamar é um eleitor forte no interior. Dá mais ainda à campanha uma feição de austeridade, ética e compromisso público".

Estrategistas da coligação PSDB-PFL trabalham para atrair o apoio de outras lideranças políticas simbólicas no país, principalmente do PMDB. Hoje, Alckmin estará no Rio Grande do Sul e será recebido pelo governador Germano Rigotto (PMDB), candidato à reeleição que tem mantido neutralidade na eleição nacional. A aproximação é dificultada pela candidatura da tucana Yêda Crusius ao governo.

"Numa campanha, essas adesões têm efeito dominó: cai uma peça e outras vêm atrás", afirmou Heráclito. No PMDB, Alckmin tem apoios importantes, como do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE), candidato ao Senado, do ex-governador Luiz Henrique (SC), que renunciou para se dedicar à campanha por novo mandato, e do presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP).