Título: Brics fecham acordo para negócios com moedas locais
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Fonte: Valor Econômico, 30/03/2012, Brasil, p. A14

Criticados pela heterogeneidade de seus integrantes e pela incapacidade de adotar decisões e ações conjuntas em temas de interesse comum, como a atuação nas Nações Unidas e as trocas de comando em instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países conhecidos como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) deram mais um passo para coordenar suas iniciativas de comércio e investimento. Um acordo entre os bancos de desenvolvimento dos cinco países abriu caminho para projetos de financiamento bilateral em moeda local, sem uso de referências como o dólar.

Os governantes dos cinco países, reunidos na Índia em sua quarta reunião de cúpula, foram unânimes, porém, em cobrar avanços na reforma do FMI, que mudará a distribuição de cotas no Fundo. Na declaração conjunta do encontro, cobraram a revisão do regime de cotas (que determina o poder de voto no Fundo) a ser concluída até janeiro de 2014, para "melhor refletir os pesos econômicos e fortalecer a voz e representação do mercado emergente e dos países em desenvolvimento".

Necessária para garantir "legitimidade e eficácia" ao FMI, só essa reforma garantirá o sucesso dos esforços para aumentar a capacidade de empréstimo da instituição aos países afetados pela crise financeira, advertiram os chefes de governo dos Brics.

O acordo para uso de moeda local em operações de crédito entre os países do grupo, que ainda terá de ser oficializado nos Congressos nacionais e regulamentado em tratados bilaterais, permite a emissão de "letras de crédito" em moeda local. "Uma empresa brasileira com vendas à China poderá tomar crédito em renminbi (ou yuan, a moeda chinesa) e amarrar sua operação, reduzindo o risco cambial", exemplificou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

A inexistência de mercado de investimentos consolidado nas moedas dos Brics e de conversibilidade para as moedas dos países do bloco ainda funcionará por algum tempo, porém, como obstáculo para negócios entre alguns de seus países.

"O financiamento em moeda local é um mecanismo de redução de risco que vai aumentar os financiamentos e estimular negócios, especialmente para pequenas e médias empresas", argumentou o presidente do Banco de Desenvolvimento da África do Sul, Jabu Moleketi. Integrantes da comitiva brasileira, mais céticos, revelavam, porém, que ainda é pequeno o interesse por esse tipo de instrumento no Brasil, embora reconhecessem que, com ele, aumentará o leque de alternativas financeiras, principalmente para a China, o mais ativo investidor entre os Brics.

Os países começarão a discutir a formação de um banco de desenvolvimento, que deverá financiar empreendimentos também em outros países emergentes. Chamado, pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, de Banco Sul-Sul, ele será constituído de acordo com um estudo a ser avaliado na próxima reunião do grupo, na África do Sul, em 2013. (SL)