Título: CPI tenta impedir exploração eleitoral das investigações
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Política, p. A8

A CPI das Sanguessugas não notificará os deputados Aroldo Cedraz (PFL-BA), Arolde de Oliveira (PFL-RJ), Márcio Reinaldo Moreira (PP-MG) e João Almeida (PSDB-BA). Os quatro parlamentares constavam de uma lista enviada na quarta-feira pela Controladoria-Geral da União à comissão de inquérito e havia a expectativa de inclusão dos nomes na lista de 90 congressistas já investigados por suposto envolvimento com a máfia que superfaturava ambulâncias.

A relação enviada pelo controlador Jorge Hage continha um ranking dos parlamentares com maior número de emendas feitas ao Orçamento da União para compra de ambulâncias e quantas dessas unidades móveis foram adquiridas pela Planam, empresa acusada de organizar a venda fraudulenta. A divulgação da lista - e de um ranking de prefeituras com maior número de ambulâncias adquiridas via Planam - resultou em uma forte reação da oposição e se mostrou clara tentativa do governo de jogar para PSDB e PFL a responsabilidade pelo escândalo.

Ontem, o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), e o sub-relator da comissão, Carlos Sampaio (PSDB-SP), trabalharam durante todo o dia para voltar ao estado de "despolitização" da CPI. "Eu pedi para o presidente Biscaia para ir até a CGU", revelou o tucano. "Não queremos partidarizar as investigações. Nunca participei de uma CPI em que as investigações se desenrolassem tão bem quanto essa, sem influências políticas. Ontem, quase que tudo isso muda de rumo", afirmou Sampaio. O sub-relator foi à CGU verificar se havia mesmo provas contra os deputados ou se a lista enviada era apenas estatística.

Depois da conversa com Hage, Sampaio afirmou "não haver absolutamente nada" contra eles. "O ministro desfez o mal-entendido e me disse que não havia natureza investigativa na lista. Era meramente estatística", afirmou. O deputado disse ter estranhado a inclusão dos quatro. "Nunca ninguém os citou como parte do esquema", afirmou. Ontem, Aroldo Cedraz e João Almeida estiveram na secretaria da CPI para conversar com Sampaio. "Foi uma atitude eleitoreira do controlador-geral. A entrevista convocada por ele para divulgar a lista foi uma coisa lamentável", protestou Almeida. Cedraz também reclamou: "Foi uma ilação perversa. Não há nada contra nenhum de nós".