Título: Estoque alto vai afetar retomada, avalia CNI
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2006, Especial, p. A12

A retomada das atividades no segundo semestre será lenta, em um ritmo menor que o esperado, acreditam os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), baseados na Sondagem Industrial da instituição, divulgada ontem. Segundo eles, os bons indicadores das estatísticas da indústria não refletem a situação de grande parte das empresas.

Espera-se, agora, um crescimento de investimentos menor do que se pensava, devido a um acúmulo inesperado de estoques no segundo trimestre, e a dificuldade de transmitir às pequenas e médias empresas o bom desempenho das grandes companhias.

"O crescimento no consumo doméstico ainda não se refletiu fortemente em toda a indústria", disse o gerente-executivo de Pesquisas da CNI, Renato Fonseca, ao divulgar a Sondagem Industrial. "Os estoques elevados no segundo trimestre não são um bom sinal." A existência de mercadorias estocadas bem além do que previam os empresários deve atrasar as decisões de investimento e aumento de produção, avalia ele.

A diferença entre os estoques planejados pelas empresas e o nível de estoque verificado vinha caindo a cada trimestre, mas voltou a subir no último trimestre, o que indica encalhe de produto. "O segundo trimestre não foi tão bom quando se esperava e aumentaram os estoques indesejados", afirmou Fonseca.

Os dados coletados pela CNI junto a quase 1,2 mil pequenas e médias empresas e 199 grandes firmas apontam a cotação deprimida do dólar como o "maior vilão" . Os números da CNI indicam que a substituição de fornecedores nacionais por importações de matérias-primas e componentes nas grandes empresas é um dos responsáveis pela "recuperação que não decola", disse o economista.

A troca de fornecedores nacionais por importações e a tímida recuperação das empresas grandes são apontadas pelos analistas da CNI como as principais razões para que esteja piorando a situação das pequenas e médias empresas, embora a recuperação das firmas maiores venha elevando os indicadores industriais.

Enquanto as grandes empresas verificaram melhoria na situação financeira e uma situação estável em sua liqüidez, as pequenas e médias sentiram forte aumento na relação entre preços e custos das firmas, e deterioração tanto na liqüidez quanto na situação financeira. Para essas empresas, as taxas de juros elevadas vêm crescendo de importância entre os principais problemas apontados na pesquisa.

Os economistas chamam a atenção para a grande desigualdade no desempenho das empresas. Os bons resultados se concentram em poucos setores, mais ligados ao consumo doméstico, sem competição externa. Dos 26 setores pesquisados, apenas sete tiveram aumento de produção, faturamento e emprego: refino de petróleo, álcool, farmacêuticos, máquinas e materiais elétricos, equipamentos hospitalares e de precisão e equipamentos de transporte.

O setor mais prejudicado pelo comportamento da economia e a competição dos importados foi o de madeira. Outros setores com queda sensível na produção, no faturamento e no emprego foram vestuário, plástico, madeira e limpeza e perfumaria.