Título: Aplicação além do alcance
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, EU & Investimentos, p. D1

Os investidores de varejo começam a ter mais acesso a fundos sofisticados. Nos últimos meses, cresceram as opções dos fundos multigestão ou fundos de fundos, carteiras oferecidas em grandes bancos e que investem em outros gestores que não aqueles ligados ao grupo. Dessa forma, é possível ter maior flexibilidade para diversificar estilos de gestão em fundos mais agressivos e alcançar casas que receberiam depósitos apenas do aplicador de maior porte.

Essas carteiras, que já atingem R$ 1,9 bilhão, são oferecidas há algum tempo para investidores dos segmento private interessados em diversificação e, por conseqüência, menor oscilação, explica Marcelo Giufrida, responsável pela BNP Paribas Asset Management e vice-presidente da Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid). A expansão desses produtos é uma tendência já bastante difundida em mercados do exterior, diz. "É um reconhecimento maduro das instituições de que as melhores opções de investimento nem sempre estão dentro de casa."

A maioria dos fundos que adotam esse modelo ainda é restrita a investidores private, mas recentemente os bancos passaram a oferecê-los também ao varejo. Apesar de lançado no ano passado, a captação no fundo Nossa Caixa do Multimercado Mix disparou nos últimos meses. Com aplicação mínima de R$ 20 mil, a carteira investe em fundos de outras quatro instituições: BNP Paribas, Banco Fator, Quest e WestLB. "Nosso foco é distribuição, portanto delegamos a alguns escolhidos por nós a gestão, que domesticamente é mais difícil de desenvolver", diz Joaquim Toledo, diretor de recursos de terceiros da Nossa Caixa.

Em abril, a Caixa Econômica Federal lançou seu multigestão. O FIC Estratégico Multimercado, de aplicação mínima de R$ 30 mil, busca proporcionar ao investidor rentabilidade acima da taxa de juros corrente no longo prazo. A carteira é dividida em partes iguais entre BNP Paribas, Pactual, Votorantim e SulAmérica.

A última família de fundos lançada em julho pela ABN Amro Asset Management - os fundos personalizados, destinados aos clientes Van Gogh - também aplica em outros administradores. O banco já oferecia o fundo Multiportfólio, que também investe em diversos gestores. "Com isso, os clientes aplicam em produtos que não oferecemos, como ativos de renda fixa internacionais", diz Sylvio de Castro, da asset do ABN.

Há dois tipos de multigestores no mercado. O primeiro é aquele com percentual fixo do patrimônio dividido entre alguns fundos, como as carteiras da Caixa e o da Nossa Caixa. O segundo modelo implica participação mais ativa do banco distribuidor. Possuem carteiras nesse grupo o BNP Paribas, ABN e o Banco do Brasil, para os clientes private, entre outros.

O BankBoston foi o primeiro a oferecer fundos multigestores ao varejo, em 2002. Atualmente, os fundos Multimanager e Multimanager Plus têm juntos patrimônio de mais de R$ 800 milhões, segundo dados do site financeiro Fortuna. Os recursos são distribuídos entre BBM, Pactual, Credit Suisse, BNP Paribas e Hedging-Griffo. "Diversificação de gestores é fundamental em multimercados, pois as estratégias e rentabilidades variam muito entre eles ao longo do tempo", diz Júlio Ziegelmann, responsável pela área de gestão de fortunas do BankBoston.

"Esses fundos têm sido cada vez mais procurados pelos investidores, pois o cenário de queda de juros faz com que se busque rentabilidade diferenciada", diz Wagner Guida, gestor de fundos de alocação do HSBC. O Aquamarine, multigestor do banco, tem seis anos e começa a ganhar mais espaço entre os investidores. "São fundos de mais risco e volatilidade para diversificação, cujo volume a ser investido depende da tolerância a risco de cada aplicador", diz.

O sucesso do Aquamarine levou o HSBC a criar um fundo no mesmo modelo para investir apenas em ações, o Aquamarine Equities, criado há menos de um ano. Outras instituições também oferecem fundos de fundos de ações, como o Unibanco.

Para selecionar os melhores fundos, o Unibanco acompanha 49 gestores e mais de 150 carteiras, diz Aline Sun, responsável pela área de fundos de fundos. No Unibanco, o varejo responde por R$ 600 milhões dessa categoria, valor que teve um crescimento de 20% desde o início do ano, afirma ela.

(Colaborou Angelo Pavini)