Título: Futuro incerto faz a Comgás mudar de estratégia e focar o mercado residencial
Autor: Coimbra, Leila
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, Empresas, p. B1

A Comgás, maior distribuidora de gás canalizado do país, já iniciou com a Petrobras a renovação de seu contrato de compra de gás nacional que vence no próximo ano. Hoje, a concessionária paulista compra 3 milhões de metros cúbicos diários de gás nacional e importa outros 11,2 milhões de metros cúbicos por dia da Bolívia. E a Petrobras quer renovar o contrato de abastecimento da parte nacional de forma flexível ou interruptível.

Mas o presidente da Comgás, Luis Domenech, disse ao Valor que acredita não ser muito fácil repassar para seus clientes contratos interruptíveis que por ventura venham a ser fechados junto à Petrobras. "O gás ainda é muito competitivo diante de outros combustíveis, e subiu menos frente à variação do álcool, do gás liquefeito de petróleo (GLP), do diesel, da gasolina e mesmo da energia elétrica. Não é tão fácil assim a indústria se tornar bicombustível".

A Comgás tem observado um crescimento médio do seu mercado em 15% ao ano, e a preocupação com a garantia futura do abastecimento já começa a preocupar. "A Petrobras apresentou um plano de antecipação da produção do Espírito Santo e também da construção de plantas de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), e confiamos nesses projetos". Apesar do executivo não acreditar na possibilidade de racionamento de gás no país, ele admite que há um equilíbrio entre a oferta e a demanda na área de concessão da companhia somente até 2007.

A atual realidade já começa até a mudar as estratégias da empresa: antes focada no mercado industrial, que consome grandes volumes do de gás, agora a empresa foca o mercado residencial. "Já temos uma penetração muito grande no mercado industrial, o que permite agora uma maior capilarização para atender aos clientes residenciais", disse o executivo.

De fato, a penetração no mercado industrial exige uma estratégia muito diferente da residencial: enquanto uma única indústria é capaz de consumir até 500 milhões de metros cúbicos diários, apenas 325 mil metros cúbicos por dia de gás são suficientes para atender a 50 mil residências, que normalmente só utilizam o gás para aquecer a água e para cozinhar.

Em tempos de escassez do insumo, é vantagem tentar priorizar o consumo residencial ao mercado industrial. Mas há um porém nessa estratégia. A construção das redes dentro das cidades são trabalhosas e exigem um custo muito maior do que a instalação de redes em áreas não habitadas. Mas o presidente da Comgás explica que as tarifas do gás hoje são aplicadas de forma que qualquer investimento, seja ele dentro das cidades ou não, dê o mesmo retorno. (LC)