Título: Troca de líderes busca afinar discursos
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2012, Política, p. A7

Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá, e na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foram mudados porque já não falavam mais a mesma linguagem da presidente Dilma Rousseff e muitas vezes manifestavam mais suas posições pessoais que as do governo, segundo fontes credenciadas do Palácio do Planalto.

A ministra encarregada da coordenação política, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) teve participação decisiva tanto na decisão de substituir os dois parlamentares como na escolha dos novos líderes, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), respectivamente.

Na lógica do Palácio do Planalto o papel decisivo de Ideli deve ser considerado com naturalidade, porque é com ela que os novos líderes vão trabalhar. Tanto Jucá quanto Vaccarezza acumularam um vasto contencioso com a ministra Ideli Salvatti.

Isso estava ocorrendo agora nas articulações para a votação do Código Florestal na Câmara, sobre a qual Ideli e Vaccarezza tinham posições distintas, como ocorreu na votação da indicação do engenheiro Bernardo Figueiredo para a direção geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), derrubada semana passada pelos senadores.

As duas mudanças não são garantia de que, a partir de agora, o governo Dilma terá menos dificuldades no Congresso. Os principais partidos da base, na realidade, avaliam que a troca é para pior e pode ser classificada de "amadora" - Ideli teria partido de um raciocínio simplista de ter somado as dissidências nos principais partidos da base.

Boa parte dos votos contrários à indicação de Figueiredo para a ANTT saíram da dissidência do PMDB. Mas a indicação de Braga para líder não assegura todos os votos do G-8 (como é chamado o grupo dissidente do PMDB) para o governo e ainda causa apreensão no grupo do presidente do Senado, José Sarney (AP), que espera eleger como sucessor o líder Renan Calheiros (AL), em eleição marcada para fevereiro de 2013.

Como é do estilo da bancada do PMDB no Senado, Renan elogiou a escolha de Braga, mas deixou claro seu descontentamento com a mudança ao indicar Romero Jucá para a função de relator da Comissão do Orçamento Geral da União.

O impacto das mudanças foi maior na Câmara, onde a indicação do deputado Arlindo Chinaglia como porta-voz da presidente foi entendida no PMDB como o primeiro ato de um rompimento do acordo que o partido tem com o PT para a sucessão de Marco Maia (PT-RS) na Câmara.

O acordo, firmado ano passado, prevê o rodízio dos dois partidos na presidência da Câmara. O PT ocupa atualmente o cargo. Em 2013 o PMDB o substituiria pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN). A repercussão na bancada do PMDB foi tão grande que levou a ministra Ideli Salvatti a telefonar para o vice-presidente Michel Temer, no fim da tarde, para, em nome da presidente Dilma, assegurar que o acordo entre os dois partidos continua de pé.

Chinaglia, segundo auxiliares da presidente, ao ser convidado para ocupar o lugar de Vaccarezza já teria sido informado de que as mudanças não interfeririam no acordo. O deputado paulista, que foi um dos signatários e também beneficiário do entendimento entre PT e PMDB (ele antecedeu a Michel Temer na presidência da Câmara já no esquema do rodízio) é visto entre os pemedebistas como um dos defensores do rompimento, no PT.

Na bancada do PT a avaliação é que a indicação de Chinaglia significa "confusão à vista". Pelo menos três motivos são relacionados de pronto para justificar esta apreensão. O primeiro é que Chinaglia é hoje o maior desafeto de Henrique Eduardo Alves; em segundo, ele tem problemas como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e com o ministro Aldo Rebelo (Esportes), do PCdoB; e - por fim -, sua indicação significa um "desbalanceamento" na relação de forças entre as correntes do PT.

Na bancada do PT, especialmente entre os paulistas, a avaliação é que a reconfiguração das lideranças do governo poderia ser usada para facilitar as alianças eleitorais que o PT precisa fazer para viabilizar seus candidatos a prefeito nas eleições de outubro deste ano.

Um nome que desagrada Eduardo Campos, por exemplo, torna ainda mais difícil o acerto com o PSB na coligação do candidato Fernando Haddad, em São Paulo - no final, Campos poderá até intervir no diretório da capital para garantir o apoio do partido a Haddad, mas pelo compromisso que tem com o ex-presidente Lula. A integração do PCdoB, que já era considerada difícil pelos petistas, ficou um pouco mais distante. Os problemas de relacionamento entre os três surgiram quando todos eram deputados e líderes ou ministros.

Muito embora a presidente Dilma e a ministra Ideli tenham se esforçado para desvincular a mudança dos líderes das eleições para a Câmara e o Senado, nos partidos as trocas foram entendidas como um recado de que ninguém tem posição garantida pelo governo. Na realidade, a maior parte da cúpula do PMDB entende que o governo não deixará que o partido controle das duas Casas do Congresso no ano da sucessão presidencial.