Título: Projeto mira capacitação de 40 mil em Java
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, Empresas, p. B3

A Politec, empresa brasileira especializada em serviços de tecnologia, em parceria com entidades e governo, trabalha em um projeto que, se vingar, poderá revolucionar a formação de profissionais no país em torno da linguagem Java, uma das programações usadas na internet.

Curiosamente batizado de Jedi (Java Educational and Development Iniciative), o projeto tem como objetivo oferecer, por meio da internet, cursos totalmente gratuitos para formação de especialistas na linguagem criada pela americana Sun Microsystems. O lançamento oficial da iniciativa deve ocorrer no dia 21 de outubro, durante o 12º encontro de tecnologia da Politec.

O projeto tem inspiração em uma iniciativa que vem sendo testada nas Filipinas desde o ano passado. A região tem procurado explorar a exportação de serviços de tecnologia, mas enfrenta dificuldades para capacitar pessoas espalhadas em cerca de 7 mil ilhas.

Depois de contato com a Sun, a Universidade das Filipinas, de Manila, deu início ao Jedi, oferecendo cursos de programação via internet, com provas presenciais realizadas ao final de cada etapa. Atualmente, 10% de todas as faculdades nas Filipinas já aderiram à iniciativa, concentrando cerca de 45 mil alunos.

"O trabalho deles é mais acadêmico. São dois anos de formação, com 12 cadeiras diferentes", comenta o líder do grupo de usuários Java em Brasília (DF-JUG), Daniel de Oliveira.

O projeto chamou do executivo, que também atua como consultor da Politec. Depois de contatos com as universidades asiáticas e viagens até a Sun, nos Estados Unidos, Oliveira fechou acordo para trazer os cursos ao Brasil, ficando responsável por disseminar o curso nos oito países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Guiné Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

No momento, Oliveira trabalha na tradução e adaptação do material utilizado na Filipinas. Uma vez compilados, os cursos poderão ser acessados por meio do site da organização. Ao concluir o processo, cada aluno terá que fazer uma prova de forma presencial para obter sua certificação, que será oferecida pelos 43 grupos de usuários Java em operação no país.

Uma negociação também está em andamento com o governo do Distrito Federal, que pretende dar acesso aos cursos - e até mesmo às provas - nos 148 telecentros espalhados na região. "Estamos fechando isso. O projeto está totalmente dentro do que que podemos oferecer em termos de estrutura e recursos", disse o secretário de ciência e tecnologia do Distrito Federal, Antônio Fábio Ribeiro.

Da Politec, afirma Oliveira, devem sair o investimento de aproximadamente R$ 100 mil, dinheiro que será usado para treinar os profissionais que aplicarão as provas em cada Estado do país. Tal qual acontece nas Filipinas, a expectativa, segundo ele, é que cerca de 40 mil programadores se formem no prazo de um ano.

Assessor da presidência da Politec, Filipe Rizzo endossa o interesse em apoiar a linguagem Java, sob a qual pretende atingir, principalmente, a demanda por projetos internacionais. "Muitas vezes, precisamos apenas de programadores, e não dos analistas que saem de faculdades", justifica.

A armazenagem do conteúdo dos cursos e a estrutura tecnológica que suportará o projeto ficará por conta da Educação Solidária (Edusol), organização que é coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Segundo fonte ouvida pelo Valor, um acordo também está sendo negociado com a Fundação Banco do Brasil, que atualmente conta com 1,6 mil telecentros espalhados pelo país.

Dados do DF-JUG dão conta de que, atualmente, o Brasil conta com cerca de 70 mil profissionais ligadas à programação Java, dos quais 45 mil estão associados aos 43 grupos de profissionais espalhados pelo país.

Em todo o mundo, as entidades internacionais do setor calculam que haja aproximadamente 4,5 milhões de profissionais Java, entre analistas e programadores. "Há uma carência de 2 milhões de profissionais hoje, que não consegue ser suprida", diz o líder do grupo de Brasília.

A iniciativa de treinamento no Brasil, afirma Oliveira, resolveria ainda outro problema: o da qualificação. As métricas da comunidade Java apontam que, atualmente, de cada 100 pessoas que concorrem por uma vaga de emprego ligada à programação, apenas 5% tem realmente o perfil adequado. "Como a demanda reprimida, surgiram muitos cursos por aí de qualidade duvidosa", acusa Oliveira. O projeto Jedi, garante, eliminará também esse problema. Com números do instituto Gartner, o executivo afirma que, de maneira geral, a linguagem Java já representa 35% da programação usada na internet mundial. Outros 35% se baseia na plataforma .Net, da Microsoft. Os 30% restantes envolvem sistemas como Cobol e Delphi.