Título: Escolaridade foi a chave para o emprego
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Brasil, p. A4

Os trabalhadores com maior escolaridade foram os principais beneficiados pela melhora do mercado de trabalho e pelo aumento do emprego no país este ano. Entre novembro deste ano e o mesmo período do ano passado, foram gerados 625 mil postos de trabalho. Desse total, mais de 86%, ou 540 mil vagas, foram destinadas a pessoas com 11 anos ou mais de estudo - ou seja, trabalhadores que têm pelo menos ensino médio completo. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a ocupação para o grupo com maior nível de escolaridade (11 anos ou mais) cresceu 6% neste período. Ao mesmo tempo, para quem não tem escolaridade ou estudou apenas um ano, a ocupação chegou a cair 5%. Pela análise do acumulado do ano, de janeiro a novembro, elaborada pela LCA Consultores, o nível ocupacional cresceu 6,9% para quem tem maior tempo de estudo, enquanto que para as pessoas com até oito anos de estudo, a ocupação recuou 1,2%. Para Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa de emprego do IBGE, é natural que pessoas com mais preparo e instrução sejam também as mais requisitadas pelo mercado de trabalho. Ele lembra que mesmo em funções que não exigem um alto grau de aperfeiçoamento, as empresas buscam profissionais que tenham pelo menos o ensino médio, além de conhecimento em informática, já que a mão-de-obra é abundante.

No entanto, apesar da ocupação no maior nível de escolaridade crescer significativamente, a desocupação dessas pessoas não cai na mesma intensidade. Na comparação mensal (novembro/novembro), a queda fica em 9%, bem abaixo da verificada para aquelas pessoas com menos de oito anos de estudo (27%), e para quem freqüentou a escola durante oito a dez anos (19,7%). Para Azeredo, isso pode ser explicado pelo fato de que mulheres com maior qualificação engrossaram a população economicamente ativa, ou seja, foram ao mercado. E, como quase sempre esse perfil não é associado ao arrimo da família, elas podem ficar mais tempo desempregadas e escolher melhores empregos, o que contribuiu para a queda contida da desocupação entre os mais qualificados. As pessoas mais velhas foram também bastante beneficiadas pela recuperação do emprego. Para a faixa dos que têm 50 anos ou mais, a ocupação cresceu 6,9% entre novembro deste ano e igual mês de 2003, o que representou mais 221 mil postos de trabalho. E só perde, em termos absolutos, para a faixa que vai dos 25 a 49 anos, onde a ocupação cresceu 2,9%, com a abertura de mais 352 mil vagas. Para o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, esses números mostram que a recuperação do mercado de trabalho já está em uma fase avançada, na qual empresas buscam qualificação aliada à experiência. "Por isso a predileção por pessoas com mais estudo e também mais idade", explica. No que diz respeito à distribuição dos empregos por setor de atividade, três foram os que se destacaram na criação de vagas e mais contribuíram para a melhora nos níveis de ocupação. Entre janeiro e novembro, as funções ligadas à intermediação financeira e atividades imobiliárias cresceram 4,8%, seguidas da indústria extrativa e de transformação, com alta de 3,46% na ocupação e do comércio, com elevação de 1,9%. Outro dado relevante é o fato de os empregos informais ainda liderarem a geração de vagas. Segundo os cálculos de Fábio Romão, da LCA, no ano, foram criados 237 mil empregos sem carteira e 126 mil com carteira. Só no setor privado, no qual o IBGE foca seus comentários, uma vez que é aí onde as pessoas mais têm chances de obter um trabalho, segundo Romão, 119 mil postos foram com carteira contra 147 mil informais. Para o resultado final do ano, a LCA Consultores prevê um crescimento de 6,5% na massa salarial, puxado muito mais pela evolução da ocupação do que do rendimento médio real, que deve crescer 3,1%. Um ponto que joga a favor do rendimento real em 2004 é o fato de a inflação estar bem abaixo daquela verificada no ano passado. Mas, para 2005, esse fator deixará de ser benéfico, uma vez que a inflação deve seguir em patamar semelhante ao de agora. Além disso, a tendência é de que os ramos de atividade mais voltados ao mercado interno tomem a frente do crescimento econômico, enquanto os setores exportadores devem mostrar uma acomodação no crescimento. Os setores que atendem à demanda doméstica são também os mais empregadores, como as indústrias de alimentos. Entretanto, são os que pagam menores salários, acrescenta o economista. A consultoria prevê, então, para 2005, um incremento de 5,6% na massa salarial. Para o rendimento médio real, a expectativa é de alta de 2%.