Título: Fabricante ignora real forte e exportações crescem 20%
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, Empresas, p. B8

A valorização do real não freou as exportações de autopeças assim como a vantagem para importar também não estimulou as compras do setor no exterior. De janeiro a junho, os fabricantes de componentes instalados no país registraram uma receita de US$ 4,261 bilhões com vendas externas, o que representa um avanço de cerca de 20% na comparação com o primeiro semestre de 2005.

Ao mesmo tempo, o total gasto com as importações registrou um leve declínio, de US$ 3,445 bilhões de janeiro a junho de 2005 para US$ 3,361 bilhões nos seis primeiros meses de 2006.

A balança comercial do setor mostra superávit de US$ 900 milhões. Esse valor é nove vezes maior do que o resultado de igual período do ano passado. A prevalecer o ritmo, o setor poderá alcançar em 2006 o maior superávit da sua história. "Se o segundo semestre for igual ao primeiro poderemos ter um saldo de US$ 2 bilhões", afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori.

Por enquanto, por falta de dados dos próprios associados, o Sindipeças mantém a previsão de alcançar um superávit de US$ 1 bilhão, com receita de US$ 8,25 bilhões em exportações, o que representará incremento de 10,2% em comparação com o faturamento obtido no exterior em 2005, ano em que as vendas externas já registraram uma alta de 23,6%.

"As empresas nos dizem que devem perder exportações no segundo semestre por conta da valorização do real, mas por enquanto os números não mostram isso", afirma Butori. O setor trabalha com a perspectiva de obter um faturamento total de US$ 28,2 bilhões em 2006, o que representa avanço de 16,5% em relação ao ano passado. Mas o Sindipeças ressalta que a maior parte desse crescimento será anulada pelo efeito cambial. O faturamento deflacionado indica aumento de 1,6%.

Segundo Butori, apesar de o câmbio ser favorável às compras no exterior, as empresas do setor de autopeças não demonstram interesse em importar. Isso ocorre, segundo o dirigente, porque houve um grande esforço para a nacionalização dos componentes. "O investimento nessa nacionalização já foi concluído", diz.

Na época em que o dólar era alto, as empresas se apressaram em desenvolver no Brasil a tecnologia e os produtos que já existiam na Europa, principal centro de criação dos veículos fabricados no Brasil. Além da questão cambial, as multinacionais se sentiram atraídas por incentivos fiscais. Quanto mais as empresas nacionalizavam os componentes e quanto mais exportavam mais vantagens fiscais conseguiam.

Mas a onda de investimentos começou a diminuir. O Sindipeças estima, com base em pesquisas com os associados, que os volumes de investimentos do setor de autopeças no país somarão este ano US$ 1,3 bilhão, o que representará uma queda de 7,1% em relação ao ano passado. Em 2005, foram gastos US$ 1,4 bilhão, quase o dobro do ano anterior. "As empresas não vão investir mais do que necessitam porque passamos um período muito grande trabalhando com capacidade ociosa", diz Butori.

O presidente do Sindipeças diz que o setor se prepara para tentar repassar para as montadoras os aumentos de preços no aço que começaram a ser aplicados pelas siderúrgicas. Os reajustes variam entre 5% e 6%.