Título: Inadimplência marca balanços
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, Finanças, p. C1

O aumento da inadimplência nas operações de financiamento ao consumo promete dar o tom dos balanços do primeiro semestre dos bancos de varejo brasileiro. Mas, isso não acendeu nenhum sinal vermelho. Os bancos contavam com esse efeito colateral à estratégia de alavancar as operações de crédito mais arriscadas, mas de maior retorno.

"O crédito vai continuar crescendo e a inadimplência deve manter os níveis atuais. Estamos confortáveis com nossas provisões e cobertura para possíveis perdas", disse o vice-presidente e diretor de relações com investidores do Banco Itaú, Alfredo Setubal, ontem, a analistas. O Itaú tem uma cobertura de 160% para créditos duvidosos e espera reduzir o índice para 150% a 140% até o final do ano.

De toda forma, os bancos resolveram desacelerar alguns negócios, apertaram os critérios de concessão de recursos e passaram a enfatizar as linhas mais seguras do leque de operações de varejo.

A taxa média de inadimplência no financiamento à aquisição de bens, exceto veículos, chegou a 11,4% em junho. Os dados foram levantados pelo Banco Central (BC), que leva em conta o percentual das operações em atraso superior a 90 dias. Um ano antes a taxa estava em 9%. Nos bancos que já divulgaram balanço, os índices registrados não são tão salgados, mas subiram.

O Itaú notou o aumento significativo da inadimplência no braço de financiamento ao consumo, a Taií. Mas, não discriminou seu índice. Apenas informou que a inadimplência da carteira de pessoa física subiu de 6,5% no final do ano passado para 7,1%; a de pessoa jurídica caiu ligeiramente para 1,4% em comparação com 1,5%; e a média geral aumentou de 4,09% para 4,4%. As taxas de junho foram apuradas de acordo com o critério determinado pelo BC de baixa de operações de crédito contra a provisão para crédito de liquidação duvidosa somente depois que a operação ficar 180 na pior classificação (H). Se o Itaú tivesse mantido seu critério, em que a direção baixava para prejuízo as operações que considera de retorno mais remoto, a inadimplência da carteira total estaria em 5,1%; a de pessoas físicas, em 8,1%; e a de pessoas jurídicas, em 1,6%.

O aumento da inadimplência levou o Itaú a desacelerar as operações da Taií. o cronograma de abertura de lojas em instalações próprias e nas parcerias com o Pão de Açúcar e Lojas Americanas. A rede da Taií está com 710 lojas - 40 a menos do que se previa - e deve chegar a 900 no final do ano. E a previsão de que a financeira equilibraria as contas no primeiro semestre de 2007 foi transferida para o segundo semestre, quando já se imaginava que teria lucro.

A desaceleração no financiamento ao consumo da Taií não chegou a afetar a evolução da carteira global de crédito do Itaú mesmo porque representa apenas 3,7% do total e o banco enfatizou operações mais seguras como o crédito de automóveis.

As operações de crédito para pessoas físicas saltaram 49% de junho de 2005 para junho passado e 10,3% no segundo trimestre, atingindo R$ 33,992 bilhões. O crédito pessoal aumentou 35,6% em um ano e 9,8% no segundo trimestre, as de financiamento de veículos saltaram 71,7% e 12,8% respectivamente.

O balanço global do HSBC informa que a inadimplência subiu no Brasil de 8,6% para 9,7% da carteira total. Por isso, o banco aumentou em 21% as despesas com provisões para devedores duvidosos para US$ 321 milhões. Os resultados em moeda local ainda não foram divulgados. No caso do HSBC a reação, disse o principal executivo da holding britânica, Michael Geoghegan, foi enfatizar as operações de crédito consignado, mais garantidas, e apertar os critérios de concessão de crédito da Losango, braço de financiamento ao consumo do grupo.

O holandês ABN AMRO informou que o aumento de 33,9% do crédito de varejo alimentou a expansão de 20% das receitas operacionais da unidade brasileira. O crédito para a pessoa física, que inclui o financiamento à aquisição de bens, crédito pessoal, cartões e crédito imobiliária, cresceram 26,9%. Mas as provisões foram reforçadas em 405 pontos-base.